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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CRISTO SE SUJEITA POR NÓS À MORTE E À SEPULTURA PARA APLICAR-NOS REDENÇÃO E MORTIFICAÇÃO


Segue-se no Credo: “Foi morto e sepultado”, onde de novo é preciso ver como, em todos os aspectos, ele se pôs em nosso lugar para pagar o preço de nossa redenção. A morte nos detinha ajoujados a seu jugo. Cristo se entregou a seu poder em nosso lugar, para que dele nos livrasse. Isto o Apóstolo entende quando escreve que “ele provou a morte por todos” [Hb 2.9]. Ora, em morrendo, assegurou ele que não morramos, ou, o que é o mesmo, por sua morte nos readquiriu a vida. Mas ele teve isto diferente de nós: que se entregou à morte, por assim dizer, a fim de ser por ela engolido, não, todavia, para que os abismos o tragassem; antes, pelo contrário, para que tragasse aquela pela qual estávamos para ser tragados dentro em pouco; deixou que ela o sujeitasse, não para que lhe fosse sufocado pelo poder; antes, pelo contrário, para que prostasse aquela que nos ameaçava e já exultava, estando nós prostrados. Enfim, através de sua morte, destruísse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertasse aqueles que, pelo temor da morte, estavam sujeitos à servidão pela vida inteira [Hb 2.15]. Este é o primeiro fruto que sua morte nos propiciou. O segundo, porém, consiste em que, por sua participação, a morte de Cristo nos mortifica os membros terrenos, para que, a seguir, não exerçam suas atividades próprias; e mata nosso homem velho para que, depois disso, não medre e frutifique. Seu sepultamento, ademais, conduz a isto, a saber, somos co-participantes dele, e também nós mesmos sepultados com Cristo para o pecado. Ora, enquanto o Apóstolo ensina que “fomos enxertados na semelhança da morte de Cristo” [Rm 6.5] e “fomos com ele sepultados na morte de pecado” [Rm 6.4]; que “por sua cruz o mundo foi crucificado para nós e nós o fomos para o mundo” [G1 2.19, 20; 6.14]; que “morremos com ele” [Cl 3.3] – não apenas nos exorta a exibirmos um exemplo de sua morte, mas ainda declara ser-lhe inerente esta eficácia que deve patentear-se em todos os cristãos, a não ser que queiram tornar inútil e infrutífera essa própria morte. Portanto, na morte e sepultamento de Cristo propõe-se duplo benefício a ser por nós desfrutado: livramento da morte a que fôramos sujeitos, e mortificação de nossa carne.

João Calvino