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domingo, 19 de agosto de 2018

A FÉ “INFORME”, COMO SE PATENTEIA NOS INCRÉDULOS, NÃO É FÉ VERDADEIRA

Esta sombra ou imagem de fé, porém, visto ser de nenhuma relevância, por isso é indigna do título de fé. Quão longe está de sua sólida verdade, ainda que se haverá de ver mais amplamente logo adiante, contudo nada impede que, de passagem, se mencione agora. Lemos que Simão Mago creu, o qual, entretanto, pouco depois revela sua incredulidade [At 8.13, 18, 19]. Não entendemos o testemunho que nos dá de sua fé, como alguns, no sentido de simplesmente ter fingido crer na palavra com uma fé que não teria no coração. Antes, pelo contrário, julgamos que, conquistado pela majestade do evangelho, manifestou certa medida de fé e assim reconheceu a Cristo como sendo o autor da vida e da salvação, de sorte que, de bom alvitre, lhe deu crédito. Da mesma forma, lemos no Evangelho de Lucas que creram, por certo tempo, aqueles em quem a semente da Palavra é sufocada antes de frutificar [Lc 8.13]; ou, inclusive seca logo e morre, antes mesmo de lançar quaisquer raízes[Lc 8.6, 7]. De tais não duvidamos que, tocados de certo gosto pela Palavra, dela se apropriam avidamente e dela começam a sentir o divino poder, de sorte que apresentam falaz simulação de fé não apenas aos olhos dos homens, mas até mesmo à sua própria mente. Pois se persuadem de que a reverência que deferem à Palavra de Deus é realmente piedade, porquanto não consideram haver impiedade, a não ser o manifesto e confesso desrespeito ou desprezo dela. De qualquer natureza, porém, que seja esse assentimento, de modo nenhum penetra até o coração, de sorte que aí resida fixo; e ainda que por vezes pareça haver lançado raízes, entretanto essas não são vivas. Tantos recessos de fatuidade tem, de tantos antros de falsidade se enche o coração humano, de tão enganosa hipocrisia é recoberto, que freqüentemente engana a si próprio. Compreendam, pois, os que se gloriam de tais aparências e simulacros de fé que, neste aspecto, em nada lucram aos diabos. Aqueles de quem primeiro falamos lhes são de fato muito inferiores, os quais, apalermados, ouvem e compreendem coisas por cujo conhecimento os diabos estremecem [Tg 2.19]; os outros nisto lhes são pares: qualquer que seja a natureza do sentimento de que são tocados, termina, afinal, em terror e consternação.

João Calvino