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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O CRISTO QUE SUBIU VOLTARÁ NO DIA FINAL PARA JULGAR A HUMANIDADE


Na verdade Cristo oferece aos seus provas não obscuras de seu mui presente poder. Mas, de certa forma, visto que seu reino jaz amorfo na terra sob a humildade da carne, com mui excelente razão é a fé convocada a ponderar essa presença visível de Cristo que ele haverá de manifestar no dia supremo. Ora, ele descerá do céu em forma visível, como foi visto subir [At 1.11], e aparecerá a todos com a inefável majestade de seu reino, com o fulgor da imortalidade, com o imenso poder da Divindade, com uma comitiva de anjos [Mt 24.30; 25.31; 1Ts 4.16]. Portanto, daí se nos prescreve aguardá-lo como nosso Redentor até aquele dia em que separará os cordeiros dos cabritos, os eleitos dos réprobos [Mt 25.32, 33]. Tampouco haverá alguém, quer dentre os vivos, quer dentre os mortos, que escape a seu juízo. Pois, desde os extremos confins do orbe ouvir-se-á o clangor da trombeta, quando serão todos conclamados ao seu tribunal, tanto aqueles a quem esse dia apanhará sobreviventes, quanto aqueles a quem a morte já antes houver arrebatado do consórcio dos vivos. Há quem aqui tome os termos os vivos e os mortos em sentido diferente. E de fato vemos que alguns dos antigos hesitaram na exposição desta frase. Mas aquele sentido, uma vez que é claro e evidente, e desse modo muito mais conveniente ao Credo, manifesta-se haver sido escrito em forma popular. Nem a isto se contrapõe o que o Apóstolo afirma: “A todos os homens está determinado morrer uma vez” [Hb 9.27]. Ora, se bem que aqueles que nesta vida mortal tenham de sobreviver ao Juízo Final não morrerão no modo e curso natural, entretanto essa transformação que sofrerão, visto que faz as vezes da morte, não é impróprio que tenha esse nome. Certo é, sem dúvida, que “não haverão todos de dormir, mas todos serão mudados” [1Co 15.51].

Que quer isso dizer? A vida mortal se lhes extinguirá, e será tragada “em um momento”, e será transformada numa natureza inteiramente nova [1Co 15.52]. Ninguém haverá de negar que esta destruição da carne é sua morte; entretanto, permanece, a todo tempo, verdadeiro que vivos e mortos serão citados ao Juízo, “porque os mortos que estão em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, os que forem remanescentes e sobreviventes serão com eles arrebatados ao encontro do Senhor no ar” [1Ts 4.16, 17]. E certamete é provável que este artigo do Credo se derivasse do sermão de Pedro que Lucas menciona [At 10.42] e da solene exortação de Paulo a Timóteo [2Tm 4.1].

João Calvino