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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

SÓ SOMOS LEVADOS A CRISTO E SEU REINO, EM GENUÍNA E VERDADEIRA FÉ, EM VIRTUDE DO ESPÍRITO DO SENHOR

Com efeito, se, como Paulo proclama, ninguém é testemunha da vontade humana, “senão o espírito do homem que nele está”, então que homem teria conhecimento da vontade divina [1Co 2.11]? E se a verdade de Deus se nos revela dúbia até nessas coisas que contemplamos com a presente visão, como firme e estável haveria ela de ser, quando o Senhor promete que nem o olho vê, nem a mente concebe essas coisas? Mas, a tal ponto a perspicácia humana é aqui frustrada e se revela deficiente, que o primeiro passo de avanço na escola do Senhor é abrir mão dela. Porque, como um lençol distendido, somos por ela impedidos de alcançar os mistérios de Deus, os quais não se revelam senão aos pequeninos [Mt 11.25; Lc 10.21]. “Pois, nem carne e sangue os revelam” [Mt 16.17], “nem o homem natural compreende essas coisas que são do Espírito”, senão que, antes, a doutrina de Deus são para eles como estultícia, “visto que ela tem de ser discernida espiritualmente” [1Co 2.14]. Portanto, necessária é a assistência do Espírito Santo; ou, antes, aqui somente seu poder é que vigora. “Pois, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?” [Rm 11.34]; “mas o Espírito perscruta a todas as coisas, até mesmo as coisas profundas de Deus” [1Co 2.10]; Espírito esse pelo qual resulta que “temos a mente de Cristo” [1Co 2.16]. “Ninguém pode vir a mim”, diz ele, “a menos que o Pai, que me enviou, o traga” [Jo 6.44]. Logo, todo aquele que ouviu do Pai, e dele aprendeu, vem a Cristo [Jo 6.45]. Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que foi enviado por Deus [Jo 1.18; 5.37]. Portanto, como de modo algum podemos aproximar-nos de Cristo, salvo se formos trazidos pelo Espírito de Deus, assim, quando somos trazidos, somos elevados, em mente e coração, acima de nosso próprio entendimento. Pois, por ele iluminada, a alma adquire como que nova agudeza de visão, mercê da qual contempla os mistérios celestes, de cujo esplendor era antes ofuscada em si própria. E de fato o intelecto do homem, antes disso inteiramente fátuo e insípido em saboreá-las, de tal modo irradiado da luz do Santo Espírito, então na verdade começa, afinal, a provar o sabor daquelas coisas que dizem respeito ao reino de Deus. Por esse motivo, estando Cristo a explicar claramente os mistérios de seu reino aos dois discípulos[Lc 24.27], contudo, nada obtém até que “lhes abre o entendimento para que compreendam as Escrituras” [Lc 24.45]. Assim, depois que os apóstolos são instruídos por sua divina boca, não obstante é necessário enviar-lhes o Espírito da verdade para que lhes instile nas mentes a mesma doutrina de que se apropriaram pelos ouvidos [Jo 16.13]. Realmente, a Palavra de Deus é como o sol a refulgir em todos a quem é pregada; contudo, entre os cegos ela não obtém nenhum fruto. Nós, porém, neste aspecto, somos todos cegos por natureza. Conseqüentemente, não pode ela penetrar nossa mente, a não ser que esse Mestre interior, o Espírito, lhe faculte entrada mediante sua iluminação.

João Calvino