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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

IMPROCEDÊNCIA DA TESE ROMANISTA A REQUERER FÉ IMPLÍCITA NA AUTORIDADE ABSOLUTA DA IGREJA

Certamente não nego (de quanta ignorância somos cercados!) que muitas coisas nos são agora implícitas, e ainda o terão de ser até que, deposta a massa da carne, nos tenhamos achegado mais perto à presença de Deus, coisas essas em que nada parece mais conveniente do que suspender nosso juízo, determinando de vez que é mais conveniente que nossa vontade permaneça unida à Igreja. Com este pretexto, porém, é o cúmulo do absurdo adornar com o nome de fé à ignorância temperada com humildade. Ora, a fé jaz no conhecimento de Deus e de Cristo [Jo 17.3], não na reverência à Igreja. E vemos que sorte de labirinto têm engendrado com esta sua “implicitação”, quando sem nenhum discernimento, enquanto é impingido sob o rótulo da Igreja, pelos ignorantes é sofregamente acatado como um oráculo, ou, o que quer que seja, por vezes até os mais espantosos erros. Esta inconsiderada docilidade, embora seja infalível precipício à ruína, é no entanto por eles escusada, dizendo que ela nada crê expressamente, senão com esta condição: se essa é a crença da Igreja! E assim imaginam que no erro tem-se a verdade, na cegueira a luz, na ignorância o reto conhecimento. Não nos demoremos por mais tempo a refutar essas coisas; apenas exortamos o leitor a conferi-las com nossos ensinos, porque a própria clareza da verdade por si só sugere uma refutação suficientemente diligente. Ora, entre eles não se indaga se porventura esteja a fé “implícita” em muitos resquícios de ignorância; pelo contrário, definem crer corretamente aqueles que se entorpecem em seu desconhecimento; mais ainda, nele se comprazem, contanto que consintam com a autoridade e julgamento da Igreja no que tange a coisas ignoradas. Como se, na verdade, a Escritura não ensinasse por toda parte que o conhecimento está associado à fé!


João Calvino