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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

AS DUAS FACES DO ARREPENDIMENTO: CONTRIÇÃO E VIVIFICAÇÃO

Certos homens doutos, porém, até muito antes destes tempos, como, em relação ao arrependimento, quisessem falar singela e sinceramente conforme a norma da Escritura, disseram constar ele de duas partes: mortificação e vivificação. Interpretam a mortificação como a aflição da alma e o pavor concebido pelo reconhecimento do pecado e do senso do juízo de Deus. Pois, quando alguém é levado ao verdadeiro conhecimento do pecado, então começa realmente a odiar e a execrar o pecado, então de coração sente aversão por si mesmo, confessa-se miserável e perdido e deseja ser outro. Além disso, quando se sente tocado por algum senso do juízo de Deus (ora, um decorre diretamente do outro), então realmente se prostra abatido e consternado, treme humilhado e acabrunhado, perde o ânimo, desespera-se. Esta é a primeira parte do arrependimento, a qual geralmente designaram de contrição. Interpretam a vivificação como sendo a consolação que nasce da fé, a saber, quando o homem, prostrado pela consciência do pecado e abatido pelo temor de Deus, a seguir mira a bondade de Deus. Sua misericórdia, graça e salvação, que é através de Cristo, o faz reerguer-se, reanimar-se, recobrar alento, e sente como que passado da morte para a vida. E, sem dúvida, esses dois termos, se apenas imaginam ser a interpretação correta, exprimem muito bem o espírito do arrependimento. Entretanto, se tomam vivificação por jubilação, a qual a alma recebe depois de aliviada da inquietação e do medo, não estou de acordo, quando significa antes o esforço de viver santa e piamente, que nasce do novo nascimento, como se estivesse dizendo que o homem morre para si a fim de começar a viver para Deus.

João Calvino