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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O ARREPENDIMENTO, VOLTA PARA DEUS, TEM MUDANÇA IMPLÍCITA REAL DE ALMA E CORAÇÃO

Contudo, antes de prosseguirmos avante, será vantajoso expor mais claramente a definição proposta por nós, na qual se devem considerar especialmente três pontos. Primeiro, quando o chamamos a volta da vida para Deus, requeremos uma transformação não apenas nas obras exteriores, mas inclusive na própria alma, a qual, quandoé despojada de sua velha natureza, então, afinal, em si produz os frutos de obras que correspondam à sua renovação. Enquanto o Profeta quer expressar isto, ordena àqueles a quem chama ao arrependimento que façam para si um coração novo [Ez 18.31]. Donde, a fim de mostrar como os israelitas deviam voltar sinceramente para o Senhor, tocados de arrependimento, mais amiúde ensina Moisés que deviam fazer isso “de todo o coração e de toda a alma” [Dt 6.5; 10.12; 30.2,6, 10], expressão que vemos constantemente repetida pelos profetas; e ao chamá-lo “circuncisão do coração” [Dt 10.16; 30.6], mexe com os afetos interiores. Entretanto, não há nenhuma passagem na qual melhor se perceba qual é a real propriedade do arrependimento do que no quarto capítulo de Jeremias: “Se voltares, ó Israel”, diz o Senhor, “volta para mim. Preparai para vós o campo de lavoura, e não semeeis entre espinhos. Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios de vosso coração” [Jr 4.1, 3, 4]. Pode-se ver como ele declara que, para viver honestamente, é necessário desarraigar a impiedade do íntimo do coração. E para tocá-los mais vividamente, os adverte que é Deus com quem hão de tratar, com o qual de nada serve andar com tergiversações, pois ele aborrece no homem a duplicidade do coração.21 [Tg 1.7, 8]. Por esta causa, ri-se Isaías [58.6] dos baldados esforços dos hipócritas, que se empenhavam, de fato excessivamente, em desenvolver o arrependimento exterior expresso em cerimônias; mas, enquanto isso, não se preocupavam em desatar os feixesde iniqüidade com os quais mantinham atados os pobres; onde mostra, ademais, de forma admirável, em que se situa propriamente o arrependimento não fingido.

João Calvino