Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A ATITUDE DE ABANDONAR A IGREJA EM RAZÃO DAS FALHAS E TRANSGRESSÕES DE SEUS MEMBROS NÃO PROVA SER A ATITUDE DE CRISTO E DOS APÓSTOLOS

Ora, de que natureza foi o tempo de Cristo e dos Apóstolos? Entretanto, nem aquela desesperada impiedade dos fariseus e a dissoluta licenciosidade do viver, que por toda parte então reinava, pôde impedir que usassem dos mesmos ritos sagrados com o povo e se reunissem em um mesmo templo com os demais para os exercícios públicos da religião. Donde procede isto senão porque aqueles que participavam dos mesmos ritos sagrados com eles com uma consciência pura sabiam que de forma alguma eram contaminados pela associação dos maus? Se a alguém pouco movem os profetas e os apóstolos, que ao menos esse aquiesça à autoridade de Cristo. Portanto, bem se expressa Cipriano: “Ainda que cizânias”, diz ele, ”ou vasos impuros se vêem na Igreja, contudo não há por que nós mesmos nos retiremos da Igreja, senão que nosso dever é procurar ser trigo, ser, quanto nos seja possível, vasos de ouro ou de prata.13 Mas quebrar os vasos de barro é apanágio exclusivo do Senhor, a quem também foi dada uma vara de ferro [Sl 2.9; Ap 2.27], nem vindique para si quem quer que seja o que só é próprio ao Filho; de sorte que seja bastante para joeirar a eira, limpar a palha e a todas as cizânias separar por juízo humano [Mt 3.12; 13.40; Lc 3.17]. Soberba é tal obstinação, e sacrílega presunção, que a ímpia loucura assume para si” etc. Portanto, permaneça fixado um e outro destes dois pontos: primeiro, que nenhuma escusa tem aquele que, deliberadamente, deserta a comunhão exterior da Igreja, onde é pregada a Palavra de Deus e são ministrados os sacramentos; segundo, que as faltas e pecados de outros, sejam poucos ou muitos, não nos impeçam de fazer profissão de nossa religião usando os sacramentos e os demais exercícios eclesiásticos juntamente com eles, porquanto uma consciência piedosa não é nem ferida pela indignidade de outrem, quer de pastor, quer de leigo; e os sacramentos do Senhor tampouco deixam de ser puros e santos para o homem limpo por ser recebidos em companhia dos impuros e perversos.

João Calvino