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domingo, 7 de outubro de 2018

A ELEIÇÃO NÃO DEPENDE DO ASSENTIMENTO HUMANO, NEM MESMO DA FÉ

Mas é preciso que nesta matéria nos guardemos bem de cair em dois erros. Visto que alguns fazem o homem colaborador com Deus, assim fazem a eleição ser retificada por seu assentimento; conseqüentemente, segundo eles, a vontade do homem é superior ao conselho de Deus. Como se de fato a Escritura ensinasse que apenas se nos concede a possibilidade de crermos, e não que a própria fé é um dom de Deus! Outros, embora não recebam a graça do Espírito Santo, entretanto, induzidos não sei de que razão, fazem a eleição dependente dessa última, como se a eleição fosse dúbia, e mesmo ineficaz, até que seja confirmada pela fé! Por certo não há dúvida de que o crer se confirma quanto a nós. Vimos antes que também se manifesta o conselho secreto de Deus que jazia oculto, contanto que com esta linguagem outra coisa não se entenda senão ser comprovado o que era desconhecido, e como que selado com um selo. Mas é falsa sua opinião de que a eleição só começa a ser eficaz quando abraçamos o evangelho, e que daqui assume toda sua força e vigor.370 É verdade que, pelo que a nós se refere, segundo se diz, recebemos do evangelho a certeza da mesma; porque, se tentássemos penetrar no eterno decreto e ordenação de Deus, seríamos tragados por esse abismo profundo. Quando, porém, Deus no-la manifesta, importa subirmos mais alto, para que o efeito não suplante a causa. Pois quando a Escritura nos ensina que fomos iluminados conforme Deus nos elegeu, que mais absurdo e indigno que nossos olhos sejam ofuscados pelo fulgor desta luz, a tal ponto que se recusem a atentar para eleição? Entrementes, tampouco nego que, para que sejamos seguros de nossa salvação, o início deve provir da Palavra e nela deve estar contida nossa confiança para que invoquemos a Deus por Pai. Ora, certos indivíduos, para que se tornem mais seguros do conselho de Deus, que nos está próximo, na boca e no coração [Dt 30.14], contrariamente anseiam poder pairar acima das nuvens. Portanto, essa temeridade deve ser coibida pela sobriedade da fé, para que Deus nos seja testemunha eficiente de sua graça oculta, que nos revela em sua Palavra; contanto que este canal, pelo qual corre a água em grande profusão para que bebamos dela, não impeça que a verdadeira fonte tenha a honra que lhe é devida.

João Calvino