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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A VOCAÇÃO OU INDICAÇÃO DOS MINISTROS É FUNÇÃO DE DEUS, NÃO PROPRIAMENTE DOS HOMENS

O terceiro item que incluímos em nossa divisão era por quem os ministros devem ser eleitos. Mas, desta matéria não se pode buscar regra segura na instituição dos apóstolos, a qual contém algo distinto da vocação comum dos demais. Ora, visto que ele era um ministério extraordinário, para que se fizesse distinto por alguma nota mais insigne, foi necessário que fossem chamados e constituídos pela boca do próprio Senhor aqueles que o haveriam de desempenhar. Portanto, não foram investidos por nenhuma eleição humana, mas foram cingidos para a obra tão-somente pelo mandado de Deus e de Cristo. Daqui procede que os apóstolos, quando querem colocar um outro no lugar de Judas, de certo modo não ousam nomear um único homem, mas apresentam dois, para que o Senhor declare por sorte qual desses dois queira que seja o sucessor [At 1.23-26]. Também nessa maneira convém interpretar o fato de Paulo negar “haver sido feito Apóstolo por homens ou através de um homem, mas por Cristo e Deus Pai” [Gl 1.1]. Esse primeiro ponto, isto é, não ter sido feito Apóstolo por homens, considerouse comum com todos os pios ministros da Palavra, pois alguém não podia exercer devidamente esta ministração senão aquele que fosse chamado por Deus. O segundo ponto, porém, isto é, não ter sido designado através de homem, foi-lhe próprio e peculiar. Portanto, enquanto se gloria disto, o Apóstolo não está apenas se gloriando de ter o que convém ao verdadeiro e legítimo pastor, mas também exibindo as insígnias de seu apostolado. Pois, como houvesse entre os gálatas aqueles que, esforçando-se por denegrir-lhe a autoridade, fizessem dele um discípulo comum, sujeito aos apóstolos primários, para que vindicasse dignidade incólume à sua pregação, contra a qual sabia que estas insídias eram intentadas, se viu obrigado, em todo respeito, mostrar que em nada era inferior aos demais apóstolos. Conseqüentemente, afirma que fora escolhido não pelo critério de homens, à semelhança de um bispo vulgar, mas por boca e oráculo manifesto do próprio Senhor.

João Calvino