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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

AS FUNÇÕES QUE SE ATRIBUEM AOS PASTORES SÃO AS MESMAS ATRIBUÍDAS AOS APÓSTOLOS E DEVEM SER DESEMPENHADAS COM ZELO IDÊNTICO

O Senhor, quando estava enviando os apóstolos, deu-lhes, como foi dito a pouco, a comissão de pregar o evangelho e de batizar os que cressem, para a remissão de seus pecados [Mt 28.19]. Antes disso, porém, mandara ele que distribuíssem, a seu exemplo, os sagrados símbolos de seu corpo e sangue [Lc 22.19]. Eis a santa, a inviolável, a perpétua lei imposta àqueles que sucedem ao lugar dos apóstolos, pela qual recebem o mandado da pregação do evangelho e da administração dos sacramentos. Do quê concluímos que aqueles que negligenciam a uma e outra dessas duas funções pretextam falsamente o papel de apóstolos. Mas, o que dizer dos pastores? Paulo fala não apenas em relação a si próprio, mas de todos eles, quando diz: “Assim nos considere o homem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” [1Co 4.1]. Igualmente, em otro lugar: “Importa que o bispo seja pertinaz nessa palavra fiel que é segundo a doutrina, para que seja poderoso para exortar mediante a sã doutrina e para refutar os contradizentes” [Tt. 1.7, 9]. Destas e de passagens afins, que ocorrem a cada passo, é possível inferir que também na função dos pastores estas são as duas partes primordiais: anunciar o evangelho e administrar os sacramentos. Mas, a maneira de ensinar consiste apenas não em discursos públicos, mas diz respeito também a admoestações particulares. Assim sendo, Paulo cita os efésios como suas testemunhas de que daquelas coisas que lhes eram do interesse a nada se esquivou que lhes anunciasse e os ensinasse publicamente e de casa em casa testificando a judeus, ao mesmo tempo que a gregos, o arrependimento e a fé em Cristo [At 20.20, 21]. Igualmente, pouco depois diz que não cessou de, com lágrimas, admoestar a cada um deles [At 20.31]. Contudo, não pertence ao presente desígnio expor minuciosamente os dotes do bom pastor, um a um, mas apenas indicar o que professam os que se chamam pastores, isto é, presidirem à Igreja de tal maneira que não têm uma dignidade ociosa, antes que, com a doutrina de Cristo, instruem o povo à verdadeira piedade, administram os sagrados mistérios, conservam o exercício da reta disciplina. Pois todos quantos foram postos por atalaias na Igreja, o Senhor lhes anuncia que, se alguém pereça por ignorância, em razão de negligência deles, ele requererá de suas mãos seu sangue [Ez 3.17, 18]. Também a todos eles compete o que de si diz Paulo: “Ai de mim se não pregar o evangelho, quando uma dispensação me foi confiada [1Co 9.16, 17]. Enfim, o que os apóstolos fizeram para o mundo inteiro, isso cada pastor deve a seu rebanho, ao qual foi designado.

João Calvino