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domingo, 7 de outubro de 2018

TEMOS NA COMUNHÃO COM CRISTO O PENHOR DE NOSSA ELEIÇÃO, QUE NOS FAZ OVELHAS DE SUA IGREJA E NOS MANTÉM PERSEVERANTES NA FÉ

Para que a confiança nos seja estabilizada, acrescenta-se outra confirmação da eleição, a saber, que ela se associa à nossa vocação. Ora, aqueles a quem, iluminados pelo conhecimento de seu nome, Cristo acolhe no seio de sua Igreja, a esses se diz que ele os recebe a seu cuidado e tutela. Mas, a todos quantos recebe, lemos que à sua guarda são confiados e entregues pelo Pai, para que sejam custodiados à vida eterna. Que mais podemos desejar? Em alta voz, Cristo proclama que todos quantos o Pai queira que sejam salvos, a esses os trouxe à sua proteção [Jo 6.37-39; 17.6, 12]. Portanto, caso se queira saber se porventura Deus se preocupa com nossa salvação, indaguemos se porventura ele nos confiou a Cristo, a quem constituiu Salvador único de todos os seus. Ora, se nutrirmos dúvida se porventura fomos recebidos por Cristo à sua proteção e custódia, ele corre ao encontro de nossa dúvida, quando espontaneamente se nos oferece por pastor e declara que faremos parte do número de suas ovelhas, se ouvirmos sua voz [Jo 10.3, 16]. Portanto, abracemos a Cristo que benignamente nos é posto diante dos olhos e vem vindo ao nosso encontro. Ele, porém, nos contará em sua grei e nos conservará encerrados no meio de seus apriscos. Entretanto, nos sobrevém ansiedade acerca de nosso estado futuro. Ora, como Paulo ensina que os que antes foram eleitos são chamados [Rm 8.30], assim Cristo mostra que “muitos têm sido chamados, porém poucos os escolhidos” [Mt 22.14]. Além disso, até mesmo Paulo, em outro lugar, também dissuade de excessiva confiança: “Aquele que está em pé”, diz ele, “veja que não caia” [1Co 10.12]. Igualmente: “Foste enxertado no povo de Deus; não te ensorberbeças; pelo contrário, teme, pois Deus pode cortar-te de novo, para que enxerte a outros” [Rm 11.20-23]. Finalmente, somos suficientemente ensinados pela própria experiência que a vocação e a fé são de pouca valia, a menos que se adicione a perseverança, a qual não se destina a todos. Ora, Cristo nos livrou desta solicitude, porque sem dúvida estas promessas apontam para o futuro: “Todo que o Pai me dá esse virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” [Jo 6.37]; de igual modo: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” [Jo 6.39]; ainda: “Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” [Jo 10.27-29]. E quando diz que “toda árvore que meu Pai não plantou será arrancada” [Mt 15.13], acena em contrário que todos os que têm suas raízes fincadas em Deus jamais poderão ser desarraigados da salvação. Com isto está de acordo este parecer de João: “Se fossem de nós, ficariam conosco” [1Jo 2.19]. Daqui também a magnífica exultação de Paulo em relação à vida e à morte, às coisas presentes e às futuras [Rm 8.38, 39], que importa que a glória esteja fundada no dom da perseverança. Nem padece dúvidaque ele dirija esta palavra a todos os eleitos. Em outro lugar, diz o mesmo Paulo: “Aquele que começou em vós a boa obra a completará até o dia de Cristo” [Fp 1.6]. Assim também Davi, como sua fé periclitasse, neste sustentáculo se reclinou: “Não desampararás a obra de tuas mãos” [Sl 138.8]. E o mesmo Jesus Cristo, quando ora pelos eleitos, não há dúvida de que em sua oração pede o mesmo que pediu por Pedro; a saber, que sua fé não desfaleça [Lc 22.32]. Deste fato concluímos que estão fora do perigo de irremediável apostasia, posto que ao Filho de Deus não lhe foi negada sua petição para que os fiéis perseverassem constantemente. O que Cristo quis que daqui aprendêssemos, senão que confiemos de que fomos salvos para sempre, porque fomos feitos seus de uma vez por todas?

João Calvino