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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O RIGORISMO QUANTO AOS PECADOS GRAVES NA IGREJA PRIMITIVA, EM CONTRASTE COM OS LEVES, FACILMENTE PERDOÁVEIS PORQUE ERAM TIDOS COMO RESULTANTES DA FRAQUEZA HUMANA, LONGE DE IMPLICAR QUE DEUS DIFICILMENTE OS PERDOE

Sem dúvida que não me escapa que escritores antigos interpretaram como erros mais leves os pecados que aos fiéis se remitem diariamente, os quais se insinuam sorrateiros da fraqueza da carne; o arrependimento solene, porém, que se requeria então para as transgressões mais graves, a eles lhes pareceu não mais dever-se repetir como não o era o batismo. Esta interpretação não deve ser assim recebida como se ou quisessem eles precipitar no desespero aqueles que decaíssem novamente do primeiro arrependimento, ou revelar esses erros, como se fossem coisas banais à vista de Deus. Pois sabiam que, freqüentemente, os santos tibubeiam em incredulidade, juramentos supérfluos por vezes lhe escapam, a ira de vez em quando refervem, mais ainda, prorrompem em manifestos vitupérios, ademais, laboram em outros males que o Senhor não abomina ligeiramente; mas assim os chamavam para que os distinguissem das faltas públicas, que vinham ao conhecimento da Igreja com grande escândalo. Que, porém, tão dificilmente perdoavam aqueles que haviam perpetrado algo digno de censura eclesiástica, fazia-se não porque pensassem que o perdão era difícil junto ao Senhor; ao contrário, com esta severidade queriam atemorizar outros, para que não se arrojassem temeriamente a iniqüidades por cujo merecimento fossem alienados da comunhão da Igreja. Contudo, a Palavra do Senhor, que aqui nos deve ser por única regra, incontestavelmente prescreve maior moderação, ainda que ensine até esse ponto dever-se estender o rigor da disciplina, que da tristeza não seja absorvido aquele a quem principalmente importa a resolução [2Co 2.7], como já discorremos mais profusamente supra.

João Calvino