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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

AS MARCAS DISTINTIVAS DA IGREJA, UNIVERSAL NA EXTENSÃO, LOCAL NA EXPRESSÃO, PESSOAL NA CONSTITUIÇÃO

Daqui nos desponta, e nitidamente nos emerge aos olhos, a face da Igreja. Pois onde quer que vemos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos os sacramentos serem administrados segundo a instituição de Cristo, aí de modo algum há de contestar-se que está presente uma igreja de Deus, visto que sua promessa não pode enganar: ”Onde estiver dois ou três congregados em meu nome, aí estou no meio deles” [Mt 18.20]. Mas, para que apanhemos claramente a suma desta matéria, é preciso que avancemos com estes passos: a Igreja Universal é a multidão congregada de todas as nações, a qual, espalhada e dispersa pelos lugares mais remotos, entretanto consente na única verdade da doutrina divinal e é congregada pelo vínculo da mesma religião; sob esta Igreja Universal estão assim compreendidas as igrejas individuais, as quais, em razão da necessidade humana, estão dispostas por cidades e vilas, de sorte que, de direito, cada uma obtenha o nome e a autoridade da Igreja; os indivíduos que, pela profissão de piedade, são desse modo contados entre as igrejas, embora de fato sejam estranhos à Igreja, contudo a ela, de certo modo, pertencem, até que, pelo consenso público, tenham sido eliminados. Todavia, um pouco diverso é o procedimento no julgar os indivíduos em particular e as igrejas. Ora, é possível que aconteça que, em virtude do consenso comum da Igreja, mercê do qual são introduzidos e tolerados no corpo de Cristo, no entanto devamos tratar como irmãos e tê-los na condição de fiéis quem absolutamente não pensaremos serem dignos do consórcio dos pios. A tais não aprovamos com nosso sufrágio como membros da Igreja, mas lhes deixamos o lugar que têm no povo de Deus, até que seu direito legítimo lhes seja tirado. Mas da própria multidão se sentirá de outra maneira: se ela tem o ministério da Palavra e se honra com a administração dos sacramentos, indubitavelmente longe de merecer ser tida e considerada como igreja, porque essas coisas certamente não são sem fruto. Assim também preservamos à Igreja Univeral sua unidade, a qual espíritos diabólicos têm sempre diligenciado por destruir; tampouco defraudamos as assembléias legítimas de sua autoridade, as quais foram distribuídas conforme a oportunidade dos lugares.

João Calvino