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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A IGREJA É SANTA, CONTUDO NÃO SIGNIFICA QUE SEUS MEMBROS TENHAM A SANTIDADE ABSOLUTA E PERFEITA

Visto que também opõem não sem razão de a Igreja ser chamada santa, convém pesar bem em que santidade ela se distingue, para que não suceda, se não queremos admitir Igreja senão absoluta em todos os sentidos, façamos com que não reste nenhuma Igreja. Certamente, é verdadeiro o que Paulo diz: “como também Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” [Ef 5.25-27]. Entretanto, também nada é menos verdadeiro que isto: que o Senhor opera diariamente para desfazer as rugas e apagar as manchas. Do quê se segue que sua santidade ainda não está plenamente consumada. Portanto, assim é santa a Igreja: visto que avança diariamente, ainda não é perfeita, está fazendo progresso diariamente, contudo ainda não chegou à meta de santidade, como também se haverá de explicar-se mais amplamente em outro lugar. Portanto, os profetas vaticinam que Jerusalém haverá de ser santa, “estranhos não mais passarão por ela” [Jl 3.17], “os impuros não haverão de entrar em seu sacrossanto templo” [Is 35.8; 52.1]. Não o entendamos como se não haveria de existir nenhuma falta nos membros da Igreja; mas visto que os fiéis aspiram, de todo o coração, a uma santidade e pureza plenas, a liberalidade de Deus lhes atribui tal perfeição, embora ainda não a tenham. E ainda que, mais freqüentemente, raros indícios subsistam de santificação deste molde entre os homens, entretanto é preciso afirmar que nunca houve algum período de tempo, desde a criação do orbe, em que o Senhor não tenha mantido sua Igreja; também jamais haverá um tempo, até a consumação do mundo, em que ela não se faça presente. Ora, ainda que já desde o princípio todo o gênero humano haja se corrompido e viciado foi pelo pecado de Adão, entretanto desta como que massa poluída Deus santifica sempre alguns vasos para honra, para que não haja qualquer era em que não experimente sua misericórdia, o que ele fez manifesto por meio de promessas infalíveis, como estas: “Fiz uma aliança com meu escolhido, e jurei a meu servo Davi, dizendo: Tua semente estabelecerei para sempre, e edificarei teu trono de geração em geração” [Sl 89.3, 4]. Igualmente: “Porque o Senhor escolheu a Sião; desejou-a para habitação, dizendo: Este é meu lugar de repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei” [Sl 132.13, 14]. Também: “Isto diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, a lua e as estrelas para luz da noite. Se estas ordenanças falharem diante de mim, então a semente de Israel também cessará” [Jr 31.35, 36].

João Calvino