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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

IGREJA GENUÍNA É TODA AQUELA QUE PROCLAMA A PALAVRA FIELMENTE E MINISTRA OS SACRAMENTOS DIGNAMENTE. ABANDONÁ-LA CONSTITUI FALTA MUI GRAVE

Já estabelecemos a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos como sinais para distinguir-se a Igreja, porque estas não podem existir em parte alguma sem que frutifiquem e prosperem pela bênção de Deus. Não estou dizendo que onde quer que a Palavra é pregada aí apareça fruto de imediato; mas, em nenhum lugar é ela recebida e tem seu assento firmado que não ponha à mostra sua eficácia. Seja como for, onde se ouve reverentemente a pregação do evangelho, nem os sacramentos são negligenciados, aí, por todo esse tempo, a face da Igreja aparece não enganosa, nem ambiguamente, da qual a ninguém se permite impunemente a autoridade menosprezar, ou as advertências rejeitar, ou os conselhos resistir, ou das censuras zombar; muito menos a abandonar e cindir sua unidade. Pois o Senhor tem em tão elevada conta a comunhão de sua Igreja, que considera covarde e desertor da religião todo aquele que contumazmente se aliena de qualquer comunidade cristã que, ao menos, cultive o verdadeiro ministério da Palavra e dos Sacramentos. Ele estima a tal ponto sua autoridade que, quando é violada, considera como que diminuída sua própria autoridade. Ora, nem é de pouca importância que a Igreja seja chamada “a coluna e fundamento da verdade” e “a casa de Deus” [1Tm 3.15], palavras estas por meio das quais Paulo dá a saber que, para que não pereça a verdade de Deus no mundo, a Igreja é sua fiel depositária; porquanto, por seu ministério e obra, Deus quis fosse conservada pura a pregação de sua Palavra; e, enquanto nos nutre com alimentos espirituais e procura fomentar tudo quanto nos enriqueça a salvação, ele se nos exibe como um pai de família. Igualmente, não é louvor vulgar dizer que a Igreja é eleita e separada por Cristo para ser sua esposa, que “fosse sem ruga e sem mácula” [Ef 5.27], “seu corpo e sua plenitude” [Ef 1.23]. Do quê se segue que o abandono da Igreja é negação de Deus e de Cristo, razão por que mais se deve guardar de tão celerado dissídio, porque, enquanto nos esforçamos, quanto está em nós, por fomentar a ruína da verdade de Deus, somos dignos de que ele dardeje seus raios com todo o ímpeto de sua ira, a fim de fazer-nos em pedaços. Não se pode imaginar mais atroz qualquer crime do que o de violar com sacrílega perfídia o matrimônio que o Unigênito Filho de Deus se dignou contrair conosco.

João Calvino