Total de visualizações de página

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

DO ESTADO DA IGREJA ANTIGA E DA FORMA DE GOVERNO QUE ESTEVE EM USO ANTES DO PAPADO

A FORMA DE GOVERNO DA IGREJA PRIMITIVA E AS ORDENS MINISTERIAIS NELA EXISTENTES

Até aqui discorremos acerca da ordem de governo da Igreja como nos foi ensinada da pura Palavra de Deus e dos ministérios segundo foram instituídos por Cristo. Agora, para que todas estas coisas se nos façåm mais clara e familiarmente manifestas, também se nos fixem melhor nas almas, será útil reconhecer a forma da Igreja antiga nessas coisas, que aos olhos nos haja de representar uma como que imagem da divina instituição. Pois ainda que os bispos daqueles tempos promulgassem muitos cânones nos quais parecessem exprimir mais do que havia sido expresso nas Sagradas Letras, contudo com esta cautela conformaram toda sua economia àquela norma única da Palavra de Deus, de tal modo que se pode ver facilmente que não ordenaram nada contrário àquela. No entanto, se ainda algo se possa desejar em suas regulamentações, todavia, porque tentaram com sincero esforço conservar a instituição de Deus, e dela não se apartaram muito, aqui será de muita vantagem coligir sucintamente a ordem que seguiram para levá-la à prática. Como já ensinamos que na Escritura se recomenda tríplice ministério, assim tudo quanto a Igreja antiga teve de ministros os distinguiu em três ordens. Ora, da ordem dos presbíteros, uma parte era eleita pastores e mestres; a parte restante presidia à censura dos costumes e às correções. Aos diácono fora confiado o cuidado dos pobres e a administração das esmolas. Leitores, porém, e acólitos não eram nomes de determinados ofícios, mas aqueles a quem chamavam clérigos, a esses desde a adolescência costumavam servir à Igreja mediante certos exercícios, para que melhor compreendessem a que fim foram destinados, e em tempo chegassem ao ofício mais preparados, como logo a seguir mostrarei mais amplamente. Assim sendo, Jerônimo, onde à Igreja prescreveu cinco ordens, enumera bispos, presbíteros, diáconos, fiéis, catecúmenos; ao clero restante, e aos monges, não atribuiu nenhum lugar próprio.

João Calvino