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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A IGREJA PAPAL, TÃO CORRUPTA QUANTO ISRAEL DOS TEMPOS DE JEROBOÃO, E ATÉ MAIS IDÓLATRA, DA QUAL NÃO SE PODE ASSOCIAR AO CULTO SEM INCORRER EM PROFANAÇÃO

Então, que os papistas neguem e peçam, se podem, para que atenuem ao máximo seus vícios, dizendo que o estado da religião entre eles não é tão corrompido e viciado como foi no reino de Israel sob Jeroboão. Com efeito, eles têm mais crassa idolatria; nem na doutrina são sequer uma gotinha mais puros, senão que, talvez, nesta mesma sejam até mais impuros. Deus, e mesmo todos quantos são dotados de mediano discernimento, serão minhas testemunhas, e o próprio fato em si também o declara, que não estou exagerando aqui. Ora, quando nos querem constranger à comunhão de sua Igreja, duas coisas exigem de nós: primeira, que participemos de todas suas preces, sacramentos e cerimônias; segunda, que tudo quanto de honra, de poder, de jurisdição que Cristo atribuiu a sua Igreja, também atribuamos nós a sua Igreja. No que tange à primeira, confesso que todos os profetas que houve em Jerusalém, embora aí as coisas estivessem sobremodo corruptas, não sacrificaram à parte nem tiveram reuniões separadamente dos outros para orar. Pois tinham o mandamento de Deus, pelo qual se lhes ordenava congregar-se no templo de Salomão [Dt 12.11-14]; também os sacerdotes levíticos, os quais, porquanto foram pelo Senhor ordenados oficiantes das coisas sagradas [Ex 29.9], nem ainda foram depostos, por mais que indignos fossem dessa honra, sabiam que de direito ainda ocupavam esse lugar. Mas – e isto constitui o ponto principal de nossa disputa – não lhes obrigavam a nenhuma superstição, nem a fazer coisa alguma que não fosse ordenada por Deus.25 Entre estes, porém, quero dizer os papistas, que há de semelhante? Pois, dificilmente podemos ter com eles qualquer reunião em que não nos poluamos de manifesta idolatria. Certamente que o vínculo primordial de comunhão está em sua missa, a qual abominamos como sendo o sacrilégio máximo. Se isso é procedente ou improcedente, ver-se-á em outro lugar. Agora é bastante mostrar que, neste aspecto, que nosso caso é bem diferente daquele dos profetas, os quais, embora estivessem presentes aos ritos sacros de ímpios, não eram obrigados ou a presenciar, ou a participar de algumas cerimônias se não eram instituídas por Deus. E, caso desejam ter um exemplo absolutamente parecido, então o tomemos do reino de Israel. Segundo a ordenação de Jeroboão, permanecia a circuncisão, faziam-se os sacrifícios, a lei era considerada santa, era invocado aquele Deus que haviam recebido dos pais; mas, em razão de formas cultuais inventadas e proibidas, tudo quanto ali se fazia Deus reprovava e condenava [1Rs 12.26–13.5]. Que me seja dado um único Profeta, ou algum homem piedoso, que sequer uma vez haja adorado em Betel, ou haja feito aí um sacrifício. Pois sabiam que isto não haveriam de fazer sem que se contaminassem com algum sacrilégio. Portanto, defendemos que a comunhão da Igreja não deve estender-se tanto, que devamos segui-la mesmo quando degenere de seu dever usando ritos e cultos profanos, condenados pela Palavra de Deus.

João Calvino