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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

OS PROFETAS, EMBORA DENUNCIASSEM COM INUSITADA VEEMÊNCIA AS TRANSGRESSÕES DE ISRAEL, NEM POR ISSO ROMPIAM COM A COMUNIDADE EXECRADA, A IGREJA DE ENTÃO

O próprio Cristo, os apóstolos e quase todos os profetas nos propiciaram exemplo desta matéria. Horrendas são aquelas descrições nas quais Isaías, Jeremias, Joel, Habacuque, entre outros, deploram a grande desordem da Igreja hierosolimitana. Entre a plebe, entre a magistratura, entre os sacerdotes todas as coisas haviam de tal forma se corrompido, que Isaías não recua em nivelar Jerusalém a Sodoma e Gomorra [Is 1.10]. A religião fora em parte desprezada, em parte contaminada; nos costumes a cada passo mencionam furtos, pilhagens, traições, matanças e crimes semelhantes. Entretanto, nem por isso os profetas erigiam para si novas igrejas, nem erguiam novos altares, nos quais tivessem sacrifícios separados. Mas, de qualquer natureza que fossem os homens, no entanto, porque consideravam que o Senhor havia depositado sua Palavra entre eles e instituído cerimônias nas quais era ali adorado, mãos puras se estendiam para ele no meio da assembléia dos ímpios. Por certo que, se houvessem pensado que daí contrairiam algum contágio, cem vezes teriam antes morrido do que permitir ser aí arrastados. Portanto, nada os retinha de se separarem, senão o empenho de conservar a unidade. Pois se os santos profetas tiveram escrúpulo em alienar-se da Igreja ante os muitos e máximos crimes, não de um ou outro homem, mas de quase todo o povo, arrogamos demais para nós se ousamos abandonar incontinenti a comunhão da Igreja onde nem todos os costumes satisfazem ou a nosso critério, ou mesmo à profissão cristã.

João Calvino