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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A COMPULSÃO DA LEI GERA OBEDIÊNCIA SERVIL, A LIBERDADE CRISTÃ PRODUZ OBEDIÊNCIA FILIAL: AQUELA, OPRESSIVA; ESTA, PRAZEROSA

Eis como todas as obras nossas jazem sob a maldição da lei, se fossem examinadas em conformidade com a exigência da lei! Enfim, como, pois, as almas infelizes haveriam de alegremente cingir-se para uma obra pela qual esperassem somente maldição como retribuição? Por outro lado, se livres desta severa disposição da lei, ou, melhor, de todo o rigor da lei, ouvem o chamado divino com paterna afabilidade, jubilosas e com grande jovialidade responderão seu chamado e o seguirão indo adiante delas. Em suma: aqueles que estão presos ao jugo da lei são semelhantes a servos a quem, para cada dia, são indicadas pelos senhores tarefas definidas. Pois eles não pensam que foi efetuado, nem ousam vir à presença dos senhores, a não ser que tenham efetuado a medida exata das tarefas prescritas. Os filhos, no entanto, que são tratados pelos pais mais generosamente e em moldes mais condizentes com as pessoas livres, não vacilam em oferecer-lhes obras incompletas e feitas pela metade, até mesmo tendo algo de imperfeição, confiados em que sua obediência e disposição de ânimo lhes serão aceitáveis, ainda que tenham feito menos daquilo que os pais queriam. É imprescindível que sejamos tais filhos, que confiemos com certeza que nossos atos de obediência, por insignificantes que sejam, e por mais grosseiros e imperfeitos, haverão de ser aprovados pelo Pai indulgentíssimo, como, aliás, nos confirma através do Profeta: “Poupá-los-ei como um pai costuma poupar ao filho que o serve” [Ml 3.17]; onde claramente se vê que perdoar é tomado por suportar benignamente e passar por alto as faltas, visto que faz menção de serviço. Nem pouco necessária nos é esta confiança, sem a qual tudo tentaremos em vão, já que Deus não se considera servido por nenhuma obra nossa, a não ser aquela que realmente seja feita por nós para seu serviço. Não obstante, como isso pode ocorrer entre esses sobressaltos, quando se duvida que Deus seja ofendido ou seja reverenciado por nossa obra?

João Calvino