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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

AS PROMESSAS DA GRAÇA SÃO DIFERENTES DAS PROMESSAS DA LEI; AS BOAS OBRAS FLUINDO COMO FATORES DE GLORIFICAÇÃO, NÃO MEIOS DE JUSTIFICAÇÃO

 E aqui haverá de ser útil observar, de passagem, que estas formas de expressão são distintas das promessas da lei. Chamo “promessas da lei”não aquelas que estão esparsas por toda parte nos livros mosaicos, uma vez que neles ocorrem também muitas promessas evangélicas, mas aquelas que dizem respeito propriamente ao ministério da lei. Promessas desta modalidade, seja qual for o nome que apraza chamar, enunciam que foi preparada recompensa sob a condição: “Se fizeres o que te é prescrito.” Quando, porém, se diz que “o Senhor guarda o pacto de misericórdia para com aqueles que o amam” [Dt 7.9; 1Rs 8.23; Ne 1.5], está demonstrando mais quais são seus servos que, de boa fé, sustentaram sua aliança, do que a expressar a razão por que o Senhor age bondosamente para com eles. E a razão que o demonstra é que, como o Senhor tem por bem chamar-nos à esperança da vida eterna a fim de ser amado, temido e honrado, igualmente todas as promessas de sua misericórdia que se encontram na Escritura se dirigem evidente mente a este fim: que reverenciemos e honremos a quem tanto bem nos faz.239 Portanto, sempre que ouvimos que ele faz bem aos que observam sua lei, lembremo-nos de que são filhos de Deus aqueles que são designados em função do dever que neles deve ser perpétuo, e por esta razão fomos adotados: para que o veneremos como nosso Pai. Conseqüentemente, para que nós mesmos não abdiquemos de nosso direito de adoção, faz-se necessário que lutemos sempre na direção para a qual tende nossa vocação. Contudo, novamente sustentemos que o cumprimento da misericórdia do Senhor não depende das obras dos fiéis; ao contrário, que ele próprio por isso cumpre a promessa de salvação para com aqueles que lhe responde à vocação em retidão de vida, porque, afinal, ele reconhece as marcas genuínas de filhos naqueles que ao bem são dirigidos por seu Espírito. A isto se refere o que está no Salmo acerca dos cidadãos da Igreja: “Senhor, quem habitará em teu tabernáculo e quem descansará em teu santo monte?” [Sl 15.1]. “O inocente de mãos e limpo de coração” etc. [Sl 24.4]. De igual modo, em Isaías: “Quem habitará com o fogo devorador? Aquele que faz justiça, que fala o que é reto” etc. [Is 33.14, 15]. Ora, não se descreve aqui o fundamento em que os fiéis se mantêm diante do Senhor, mas a maneira pela qual o Pai clementíssimo os introduz a seu consórcio e nele os guarda e firma. Pois, visto que detesta o pecado e ama a justiça, Deus purifica por intermédio de seu Espírito aqueles que une a si, para que os faça conformes a si próprio e a seu reino. Portanto, se a causa primeira for buscada donde aos santos se abra acesso ao reino de Deus, donde tenham como nele manter-se firmes sempre, pronta é a resposta: porque, em sua misericórdia, o Senhor não somente os adotou de uma vez por todas, mas também os guarda perpetuamente. Se, porém, a questão é quanto à maneira, então é preciso descer à regeneração e seus frutos, os quais se enumeram nesse Salmo.

João Calvino