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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PAI NOSSO, QUE ESTÁS NO CÉU

O PROFUNDO SIGNIFICADO DA INVOCAÇÃO DE DEUS COMO “NOSSO PAI”

Primeiro, no próprio limiar ocorre o que já dissemos previamente: toda oração deve ser oferecida por nós a Deus não de outra forma senão no nome de Cristo, visto que em nenhum outro nome ela pode ser-lhe recomendada. Ora, desde que a Deus chamamos Pai, fazendo-o sem dúvida antepomos o nome de Cristo, pois com que confiança de outra sorte alguém chamaria a Deus de Pai? Quem temeriamente prorromperia a isto, usurpando a honra do Filho de Deus, salvo se em Cristo fôssemos adotados por filhos da graça, Cristo que, sendo o verdadeiro Filho, nos foi dado, ele mesmo, por Irmão, para que o que ele mesmo tem por natureza se faça nosso por beneficio da adoção, se com fé segura abraçamos tão grande benevolência? Como diz João: “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem em seu nome” [Jo 1.12]. Por isso, Deus não só se denomina nosso Pai, mas também quer por nós ser assim chamado, com essa doçura tão imensa de um nome que elimina de nós toda incerteza, uma vez que nenhum afeto maior de amor se pode achar em outra parte que não seja no Pai. Portanto, Deus não pôde comprovar com nenhuma prova mais segura seu imenso amor para conosco além do fato de que somos chamados filhos de Deus [1Jo 3.1]. Seu amor, porém, é infinitamente maior e mais excelente para conosco do que todo o amorde nossos pais, quanto ele mesmo supera em bondade e misericórdia a todos os homens; de modo que, se todos quantos, pois, há na terra, despojados de todo sentimento de paternal piedade, desamparassem aos filhos, ele jamais falharia para conosco [Sl 27.10; Is 63.16], porque não pode negar a si mesmo [2Tm 2.13]. Ora, nós temos sua promessa: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” [Mt 7.11]. Igualmente, no Profeta: “Porventura pode a mãe esquecer-se dos filhos? E se ela os esquecer, contudo eu não me esquecerei de ti” [Is 49.15]. Como não se pode confiar um filho à guarda de um homem estranho e desconhecido, sem que ao mesmo tempo se haja de queixar-se ou da crueza ou da improbidade do pai, assim, uma vez sendo nós seus filhos, não podemos buscar ajuda de outra parte senão dele mesmo, senão desonrando e infamando-o como pobre e miserável, ou como austero e cruel.

João Calvino