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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A ORAÇÃO DO SENHOR, OU PAI NOSSO, É EXPRESSÃO DA MISERICÓRDIA DIVINA EM PROVER-NOS FORMA MODELAR DE ORAÇÃO

Agora se faz necessário aprender noção de orar não só mais segura, mas também a própria forma, isto é, aquela que o Pai celestial nos ensinou através de seu dileto Filho [Mt 6.9-13; Lc 11.2-4], onde se pode perceber sua imensa bondade e benevolência. Ora, além de advertir-nos e insistir conosco que o devemos buscar em todas as nossas necessidades, assim como os filhos costumam refugiar-se na proteção dos pais sempre que são afligidos de qualquer ansiedade, vendo que de fato não podíamos sequer entender quão profunda é nossa necessidade e miséria, nem tampouco o haveríamos de suplicar que fosse de nosso proveito, também atendeu a esta nossa ignorância e o que faltava à nossa capacidade, e de si mesmo supriu tudo o que nos faltava. Pois nos prescreveu uma fórmula, pela qual, como em uma tabela, nos propôs tudo quanto dele é licito buscar, tudo quanto conduz a nosso bem-estar, tudo quanto é necessário suplicar. Desta sua benignidade percebemos grande fruto de consolação, porque compreendemos que não lhe suplicamos nada que seja ilícito, nada que seja estranho ou inoportuno, enfim, nada que não lhe seja aceitável, porquanto estamos rogando quase que de sua própria boca. Como visse a imperícia dos homens na apresentação de seus rogos a Deus, os quais, se concedidos, muitas vezes lhes seria prejudicial, Platão declara que a melhor forma de orar é esta, apropriada de um poeta antigo: “Ó Rei Júpiter, confere-nos as coisas melhores, quer as desejemos, quer não; as coisas más, porém, ordena que fiquem longe de nós, ainda quando as peçamos. E esse homem, na verdade pagão, nisto é sábio, porque sentencia quão perigoso é buscar do Senhor o que nossa cabeça haja ditado; ao mesmo tempo, põe à mostra nossa infelicidade, visto que, na realidade, nem podemos abrir a boca diante de Deus, sem grave perigo, a não ser que o Espírito nos instrua sobre a norma certa de orar [Rm 8.26]. Em quão maior apreço merece ser julgado entre nós este privilégio, quando o Unigênito Filho de Deus nos sugere à boca palavras que desvencilhem nossa mente de toda vacilação!

João Calvino