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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

AO DIZER-SE “PAI NOSSO”, SIGNIFICA QUE ELE É O PAI DE TODOS, RAZÃO PELA QUAL DEVEMOS ORAR AFETUOSAMENTE, PORÉM, DE MODO ESPECIAL, PELOS DA FAMÍLIA DA FÉ

O que aqui, porém, não se nos ensina é que cada em particular o chame seu Pai, mas, antes, que todos o chamemos em comum nosso Pai, sendo com isso advertidos de quão grande afeto de fraterno amor convém que exista entre nós, nós que com o mesmo direito de misericórdia e graciosa liberalidade desse Pai, somos igualmente filhos. Ora, se o Pai é um só e único, comum a todos [Mt 23.9], do qual provém absolutamente tudo quanto de bom nos pode suceder, não deve haver nada separado entre nós, que não estejamos preparados, comunicando uns aos outros com grande alegria de espírito quanto exige a necessidade. Ora, se estamos preparados como se deve, a assistir-nos e ajudar-nos, mutuamente, não há nada em que mais possamos beneficiar aos irmãos do que recomendando-os ao cuidado e providência do Pai boníssimo, o qual, sendo propício e favorável, nada mais, absolutamente, se pode desejar. Obviamente, isto mesmo também devemos a nosso Pai. Porque, assim como tantos quantos amam verdadeiramente e de coração a algum pai de família, com amor e benevolência abraçam ao mesmo tempo a toda sua casa; na mesma medida nós, se com o zelo e afeto amamos a este Pai celestial e desejamos servi-lo, é necessário que mostremos afeto e amor a seu povo, sua família, enfim, sua herança, a qual ele tem tão grandemente honrado, e à qual denominou a plenitude de seu Filho Unigênito [Ef 1.23]. Portanto, que o homem cristão conforme suas orações a esta regra: que elas sejam comuns e que ele abrace a todos os que são seus irmãos em Cristo. Não somente aqueles que vê como tais e reconhece no presente, mas a todos os homens que agem sobre a terra, acerca dos quais está além do conhecimento de que Deus assim o determinou, exceto que desejar-lhes e esperar-lhes o melhor não é menos piedoso que humano; se bem que, acima dos demais, importa que sejamos propensos de certo afeto singular para com os da família da fé, aos quais o Apóstolo no-los recomendou, de modo especial [Gl 6.10]. Em síntese, assim devem ser todas as orações: que tenham sempre os olhos postos naquela comunhão que nosso Senhor estabeleceu em seu reino e sua casa.

João Calvino