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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A ORAÇÃO, AINDA QUE SEM FRONTEIRAS VISE A TODOS, NADA IMPEDE, COMO AUXÍLIO A INDIGENTES, QUE SE FAÇA EM FAVOR DE ALGUNS, MAIS ESPECIFICAMENTE, ATÉ EM NOSSO PRÓPRIO FAVOR

Contudo, tampouco isso impede que seja lícito orar, especialmente, não só em nosso favor, mas também em favor de outros; contudo, desde que a mente não se descuide da visão desta comunhão, muito menos dela se desvie; ao contrário, tudo deve convergir para este ponto. Ora, ainda que as orações sejam concebidas em moldes individuais, porquanto para este escopo se dirigem, elas não deixam de revestir-se de teor universal. Tudo isto se pode entender facilmente com uma ilustração. É geral o mandado de Deus quanto a aliviar-se a penúria de todos os pobres, e de fato que se obedeçam a isto os que, para esse fim, socorrem a indigência daqueles que sabem ou vêem sofrer, ainda que omitam a muitos que são premidos de não menos dura necessidade, ou porque não possam conhecê-los a todos, ou porque não possam atender a todos. Nesta medida, aqueles que formulam orações particulares desta natureza não resistem à vontade de Deus, tendo em mira, e ponderando esta comum comunidade da Igreja, com as quais, com palavras particulares, porém com um afeto comum e público, recomendam a Deus a si mesmos ou aos outros, cuja necessidade ele quis que conheçam mais de perto. Entretanto, de fato nem tudo é semelhante na oração e na distribuição de recursos, pois a benignidade de dar assistência só pode ser exercida em favor daqueles cuja penúria nos foi posta à vista; mas pela oração é possível ajudar até aos mais estranhos e mais desconhecidos, por mais longa seja a distância pela qual estejam afastados de nós. Mas isto se dá através desta fórmula geral de oração em que estão contidos todos os filhos de Deus, entre os quais estão também esses. A isto se pode atribuir o fato de Paulo exortar aos fiéis de seu tempo a que, em toda parte, elevem mãos puras sem contenda [1Tm 2.8]; porquanto, advertindo que a dissenção fecha a porta às orações, ele ordena que seus rogos sejam unânimes, em toda paz e amizade.

João Calvino