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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

AS PROMESSAS DIVINAS NÃO ENCONTRAM NAS OBRAS CUMPRIMENTO MERITÓRIO, MAS TÃO-SOMENTE NA GRAÇA MANIFESTA NO EVANGELHO

Por esta razão, também as promessas que nos eram oferecidas na lei teriam sido todas ineficazes e sem préstimo, não as socorresse a bondade de Deus através do evangelho. Ora, a condição de cumprirmos integralmente a lei, da qual elas dependem e em função da qual devem realizar-se exclusivamente, nunca se preencherá. Assim, pois, o Senhor nos ajuda, não nos deixando parte da justiça nas obras, parte suprindo ele por sua indulgência, mas em que aponta para Cristo unicamente como cumprimento da justiça. Pois o Apóstolo, tendo dito anteriormente que ele e os demais judeus, “sabendo que, pelas obras da lei ninguém é justificado, creram em Jesus Cristo”, adiciona a razão: “não para que fossem ajudados à suma da justiça pela fé em Cristo, mas para que fossem por ela justificados, não pelas obras da lei” [Gl 2.16]. Se os fiéis migram da lei à fé para que nesta encontrem a justiça que vêem estar tão longe daquela, por certo que renunciam à justiça da lei. Portanto, amplifique agora quem o queira as retribuições que se diz estarem reservadas ao observador da lei, desde que tenha em conta, ao mesmo tempo, que de nossa depravação resulta que não sentimos nenhum fruto, até que da fé tenhamos adquirido outra justiça. Assim Davi, quando se lembra da retribuição que o Senhor preparou para seus servos, desce imediatamente ao reconhecimento dos pecados mercê dos quais é ela esvaziada. Também no Salmo ele celebra magnificamente os benefícios da lei, porém exclama logo em seguida: “Suas transgressões, quem as entende? Limpa-me, Senhor, de minhas faltas ocultas” [Sl 19.12]. Esta passagem está inteiramente de acordo com a precedente, onde, depois que dissera: “Todos os caminhos do Senhor são bondade e verdade aos que o temem”, acrescenta: “Por amor de teu nome, Senhor, sê propício à minha depravação, pois ela é mui grande” [Sl 25.10, 11]. Assim também devemos reconhecer que, na verdade, na lei nos foi exposta a benevolência de Deus, contanto que possamos merecê-la por nossas obras; mas que por mérito das mesmas jamais a conseguiremos.

João Calvino