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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

PERSEVERANÇA, PACIÊNCIA E SUBMISSÃO QUE SE FAZEM INDISPENSÁVEIS NO EXERCÍCIO DA ORAÇÃO

Se de ânimo disposto para com esta obediência, nos deixamos ser regidos pelas leis da divina providência, aprenderemos facilmente a perseverar em oração e, suspensos os desejos, a pacientemente esperar no Senhor, certos de que, embora de modo algum se ponha ele à mostra, todavia nos está sempre presente, e a seu tempo haverá de declarar que seus ouvidos nunca foram surdos às nossas orações, as quais, aos olhos dos homens, pareciam ignoradas. Mui presente consolação, porém, nos haverá esta de ser, para que não desfaleçamos e em desespero não caiamos, se a qualquer tempo Deus não nos responder às primeiras orações, como costumam os que, enquanto se deixam impulsionar apenas por seu ardor, invocam a Deus de tal modo que, a não ser que ele atenda aos primeiros arroubos e traga ajuda imediata, prontamente o imaginam ofendido e irado com eles e, descartada toda esperança de alcançar o que suplicam, desistem de invocá-lo. Senão que, antes, nossa esperança distendendo com bem temperada eqüidade de ânimo, avancemos para com essa perseverança que tão grandemente se nos recomenda nas Escrituras. Ora, nos Salmos é possível, freqüentemente, ver que Davi e os demais fiéis, quando, quase cansados de orar, parecem haver golpeado o ar, uma vez que suas palavras são derramadas diante de um Deus surdo, contudo, não desistem de orar, porquanto não dão à Palavra de Deus a autoridade que lhe é atribuída, a não ser que a fé esteja acima de todas as contingências. Além disso, isto também nos servirá de excelente remédio para guardar-nos de tentar a Deus e de fatigá-lo com nossa impiedade, provocando-o contra nós, como é o costume de muitos, os quais somente sob determinada condição pactuam com Deus; e como se ele fosse escravo de seus desejos, o mantêm limitado às leis de sua estipulação, às quais, a menos que prontamente obedeça, indignam-se, reclamam, protestam, murmuram, revoltam-se. Portanto, Deus lhes concede muitas vezes em seu furor o que em sua misericórdia e favor nega a outros. Prova disso são os filhos de Israel, aos quais melhor fora não tivessem sido ouvidos pelo Senhor que juntamente com as carnes tragarem-lhe a indignação [Nm 11.18-33].

João Calvino