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domingo, 19 de agosto de 2018

1 CORÍNTIOS 13.2 NÃO CORROBORA A DISTINÇÃO ENTRE FÉ “FORMADA” E FÉ “INFORME”

Os que costumam impor o que Paulo diz, a saber: “Se alguém tem toda a fé a ponto de remover montanhas, entretanto não tem amor, esse tal nada é” [1Co 13.2], citação com que “deformam” a fé, concebida como destituída do amor, não atentam para o que seja a fé para o Apóstolo nesta passagem. Ora, depois de haver discorrido, no capitulo precedente, acerca dos vários dons do Espírito, entre os quais incluíra as variedades de línguas, os poderes miraculosos, a profecia [1Co 12.4-10], e exortara os coríntios “a buscar dentre eles os melhores”, isto é, os que resultassem em mais fruto e proveito a todo o corpo da Igreja, acrescenta haver-lhes de mostrar “um caminho ainda mais excelente” [1Co 12.31]. Todos os dons desta espécie, por mais excelentes que sejam em si, devem, todavia, ser estimados por nada, a não ser que sirvam ao amor. Ora, eles foram dados para a edificação da Igreja, e a não ser que a ela sejam aplicados, perdem seu benefício. Para provar isto, Paulo usa de distributividade, reenumerando esses mesmos dons aos quais referira um pouco antes, mas agora sob outros designativos. Assim é que usa os termos poderes e fé na mesma acepção, isto é, para designar a faculdade de operar milagres. Portanto, como este assim chamado poder ou fé é um dom particular de Deus, do qual um ímpio qualquer pode não só valer-se, mas até abusar, como o dom de línguas, como a profecia, como outros carismas, não é de admirarse do amor seja separado! Todo o erro destes, porém, está nisto: posto que o vocábulo fé é polu,shmon [P(lys@<(n – de muitas conotações], por não observar-se a diversidade de significado, contendem exatamente como se, por toda parte na Escritura, a acepção lhe fosse sempre a mesma. A passagem de Tiago [2.21] que citam em apoio do mesmo erro será discutida em outro lugar. Ainda que, por interesse didático, enquanto queremos pôr à mostra qual seja o conhecimento de Deus nos ímpios, de fato admitimos serem muitas as formas da fé, entretanto reconhecemos e proclamamos, como a Escritura ensina, que a fé dos piedosos é uma e única. Certamente que muitíssimos crêem que Deus existe e julgam que são verídicas a história do evangelho e as demais partes da Escritura, quase como costuma ser o juízo acerca daquelas coisas que ou se narram como feitas no passado, ou, presentes, nós mesmos as temos testemunhado. Há também aqueles que vão além, porque não só têm a Palavra de Deus por oráculo certíssimo, nem negligenciam totalmente seus preceitos, mas até de certa forma se deixam afetar pelas ameaças e promessas. A tais, na verdade, atribui-se o testemunho da fé, mediante kata,crhsin [Katáchr@sin – uso impróprio], uma vez que não resistem à Palavra de Deus em manifesta impiedade, nem a rejeitam nem a desprezam; pelo contrário, antes lhe exibemcerta aparência de obediência.

João Calvino