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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CRISTO, O REDENTOR E SALVADOR

COMO CRISTO CUMPRIU AS FUNÇÕES DE REDENTOR PARA QUE NOS ADQUIRISSE A SALVAÇÃO. ONDE SE TRATA DE SUA MORTE E RESSURREIÇÃO, BEM COMO DA ASCENSÃO AO CÉU

As coisas que até aqui temos dito a respeito de Cristo devem ser referidas a este único escopo: que, condenados, mortos e perdidos em nós mesmos, nele busquemos justiça, libertação, vida e salvação, como somos ensinados nessa insigne afirmação de Pedro: “debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” [At 4.12]. Na verdade, não lhe foi imposto o nome JESUS às cegas, ou por fortuito acaso, ou pelo arbítrio de homens; pelo contrário, foi trazido dos céus por um anjo, mensageiro de um decreto supremo, anexada também a razão: que ele foi enviado para salvar o povo de seus pecados [Mt 1.21]. Com estas palavras lhe é confiado o ofício de Redentor, para que fosse assim nosso Salvador. Entrementes, incompleta, todavia, nos seria a redenção, a não ser que, mediante avanços contínuos, ele nos conduzisse integralmente à meta última da salvação. E assim, tão logo dele nos desviamos, ainda que um mínimo apenas, aos poucos a salvação se nos desvanece, a qual reside nele integralmente. De sorte que, por certo, de toda a graça se privam todos quantos nele não se arrimam. E digna de lembrança é esta advertência de Bernardo: “O nome de Jesus não é apenas luz, mas também alimento. É também óleo, sem o qual se resseca todo manjar da alma; é sal, sem cuja condimentação é insípido tudo quanto se põe diante de nós. Enfim, é mel na boca, melodia no ouvido, júbilo no coração e, ao mesmo tempo, remédio; e insípido é tudo quanto se discute, a não ser onde ressoe este nome.” Mas aqui se faz conveniente ponderar diligentemente como a salvação nos é por ele engendrada, para que não só estejamos persuadidos de que ele é seu autor, mas, havendo abraçado as coisas que servem de sólido suporte à nossa fé, repudiemos todas as coisas que podem nos afastar para aqui ou para ali. Ora, uma vez que ninguém pode descer dentro de si mesmo e sondar seriamente o que quer que seja sem que, sentindo a Deus irado e hostil para consigo, não tenha necessidade de buscar ansiosamente meio e maneira de aplacá-lo; o que exige satisfação requer-se certeza não comum, visto que sobre os pecadores, até que tenham sido absolvidos da culposidade, cai sempre a ira e maldição de Deus, o qual, visto ser justo Juiz, não deixa impune quem viola sua lei; pelo contrário, armado ele está para a punição.

João Calvino