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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

SOMOS REGENERADOS MEDIANTE A FÉ. ONDE SE TRATA TAMBÉM DO ARREPENDIMENTO

O ARREPENDIMENTO É COROLÁRIO IMPRESCINDÍVEL DA FÉ

Se bem que, em certa medida, já ensinamos como a fé possui a Cristo, e através dela desfrutamos de suas benesses, isso, no entanto, seria ainda obscuro, a não ser que se adicione uma explicação dos efeitos que sentimos dela. Não sem fundamento, a suma do evangelho fixa-se no arrependimento e no perdão dos pecadas [Lc 24.47; At 5.31]. Logo, omitidos esses dois tópicos, será fria e mutilada, e até quase inútil, toda e qualquer discussão da fé. Ora, uma vez que Cristo nos confere ambas essas coisas, isto é, novidade de vida e reconciliação graciosa, e a ambas alcançamos pela fé, discute-se a razão e método de ensinar, ambas as quais começo a dissertar neste ponto. O próximo passo, porém, nos será da fé ao arrependimento, porque, conhecido adequadamente esse ponto, melhor se evidenciará como somente pela fé e puro perdão o homem é justificado; contudo, a graciosa imputação de justiça não é separada, por assim dizer, da real santidade de vida. Entretanto, deve estar fora de controvérsia que o arrependimento não apenas segue de contínuo a fé, mas inclusive nasce dela. Ora, uma vez que pela pregação do evangelho é oferecido perdão e remissão para que o pecador, liberado da tirania de Satanás, do jugo do pecado e da mísera servidão dos vícios, seja transportado ao reino de Deus, por certo que ninguém pode abraçar a graça do evangelho a não ser que se afaste dos erros da vida e tome a via reta, e aplique todo seu esforço à prática do arrependimento. Mas, os que pensam que o arrependimento precede à fé e não é produzida por ela, como o fruto de sua árvore, estes jamais souberam no que consiste sua propriedade e natureza, e, ao pensar assim, se apoiam num fundamento sem consistência.

João Calvino