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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

DESCER AO HADES É EXPRESSÃO DOS TORMENTOS ESPIRITUAIS QUE CRISTO SOFREU EM NOSSO LUGAR


Mas, em referência à descida de Cristo às regiões infernais, deixada de parte a consideração do Credo, é preciso buscar uma explicação mais certa. E a Palavra de Deus nos é patenteada, não apenas como santa e pia, mas também plena de maravilhosa consolação. Nada se teria passado, se Cristo tivesse experimentado apenas a morte corporal. Pelo contrário, era ao mesmo tempo necessário que ele sentisse a severidade da vingança divina, para que não só se visse sujeito à ira, como também nele o justo juízo fosse satisfeito. Ademais, ele se viu obrigado a lutar, por assim dizer, de mãos travadas,267 com as hostes dos infernos e com o horror da morte eterna. Pouco antes referimos do Profeta que “foi imposto sobre ele o castigo de nossa paz”; que “ele foi ferido” pelo Pai “por causa de nossas transgressões”; que “foi esmagado por causa de nossas enfermidades” [Is 53.5], palavras com as quais significa ter-se submetido por fiador, avalista e até mesmo como culpado, em lugar dos transgressores, para que pagasse e saldasse todas as penas que deles se deveriam exigir, excetuado apenas isto: que “não podia ser retido pelos tormentos da morte” [At 2.24]. Portanto, nada há de surpreendente dizer-se que ele desceu às regiões infernais, uma vez que tenha ele sofrido esta morte infligida aos pecadores por um Deus irado. É por demais frívola, e até mesmo ridícula, a objeção daqueles que dizem que desse modo se transtorna a ordem, porquanto é absurdo que ao sepultamento se ponha o que o precedeu, pois no Credo, onde foram expostas as coisas que Cristo sofreu à vista dos homens, anexa-se apropriadamente aquele julgamento invisível e incompreensível que manteve diante de Deus, para que saibamos não só que o corpo de Cristo foi entregue por preço de redenção, mas houve também um preço maior e mais excelente, a saber, que ele sofreu na alma os terríveis tormentos de um homem condenado e perdido.

João Calvino