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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

AS COISAS QUE FORAM DITAS ACERCA DE CRISTO NOS SÃO PROVEITOSAS EM VIRTUDE DA OPERAÇÃO SECRETA DO ESPIRITO

A UNIÃO COM CRISTO E A APROPRIAÇÃO DAS BÊNÇÃOS QUE ELE NOS CONQUISTOU OPERAM-SE ATRAVÉS DO ESPÍRITO SANTO

Impõe-se-nos ver agora como nos advêm as benesses que o Pai conferiu ao Filho Unigênito, não para seu uso particular, mas para que enriquecesse a pobres e indigentes. E, primeiramente, deve ter-se em conta que, por quanto tempo Cristo estiver fora de nós e dele estivermos separados, tudo quanto ele sofreu e fez para a salvação do gênero humano nos é improfícuo e de nenhuma relevância. Portanto, para que compartilhe conosco aquilo querecebeu do Pai, ele precisa tornar-se nosso e habitar em nós. Por isso, ele é não somente chamado “nossa cabeça”[Ef 4.15], mas ainda “o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29]. Nós também, de nossa parte, somos declarados “estar enxertados nele” [Rm 11.17] e “dele estarmos vestidos” [Gl 3.27], porquanto, como eu já disse, tudo quantopossui nada é para nós até que com ele nos tornemos um. Mas, ainda que seja verdadeiro que conseguimos isto através da fé, entretanto, quando vemos que nem todos indiscriminadamente abraçam a comunhão de Cristo que é oferecida mediante o evangelho, ensina-nos a própria razão a subir mais alto e a inquirir da secreta operação do Espírito, mercê da qual fruímos de Cristo e de todas as suas benesses. Discorri anteriormente acerca da eterna divindade e essência do Espírito. Contentemo-nos agora com este tópico especial: que Cristo veio na água e no sangue, e é assim que dele testifique o Espírito [1Jo 5.6, 7], para que a salvação conferida através deste não se reduza a nada. Pois, da mesma forma que são citadas três testemunhas no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito, assim também três são citadas na terra: a água, o sangue e o Espírito [1Jo 5.7, 8]. Nem debalde se repete o testemunho do Espírito, pois que o sentimos ter sido gravado como um selo em nosso coração. Donde ocorre que ele sela a oblação e o sacrifício de Cristo. Por essa razão diz também Pedro que “os fiéis foram eleitos na santificação do Espírito para a obediência e a aspersão do sangue de Cristo” [1Pe 1.2]. Com essas palavras ele adverte que, para que não seja sem efeito a efusão de seu sacro sangue, pelo secreto derramamento do Espirito com ele são purgadas nossas almas. Razão pela qual também Paulo, em discorrendo acerca de nossa purificação e justificação, diz que nos tornamos possuidores de ambas “em o nome de Jesus Cristo e do Espírito de Deus” [1Co 6.11]. A isto se reduz a síntese desta matéria: o Espírito Santo é o elo pelo qual Cristo nos vincula efetivamente a si. Ao que são pertinentes também as coisas que temos ensinado a respeito de sua unção no livro precedente.


João Calvino