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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

COMO AS DUAS NATUREZAS DO MEDIADOR FORMAM UMA PESSOA ÚNICA

 DUAS PESSOAS EM CRISTO, PORÉM UMA SÓ PESSOA

Com efeito, no que se diz ter-se o Verbo feito carne [Jo 1.14], não se deve com isso entender como se ele ou se convertesse em carne, ou confusamente se misturasse à carne; ao contrario, visto que do ventre da Virgem para si escolheu um templo em que habitasse, e Aquele que era o Filho de Deus se fez o Filho do Homem, não mediante confusão de substância, mas em virtude de unidade de pessoa. Pois, na verdade, afirmamos que a Divindade foi tão associada e unida à humanidade, que sua propriedade permaneceu integral a cada natureza, e todavia dessas duas é constituído um único Cristo. Se nas coisas humanas se pode achar algo como símile a tão grande mistério, a similitude do homem parece a mais apropriada, o qual vemos consistir de duas substâncias, das quais, entretanto, nenhuma se misturou de tal forma à outra que não retenha a propriedade de sua natureza. Pois, a alma não é corpo, nem o corpo, alma. Porquanto, não só da alma se diz especificamente o que, de modo algum, pode caber ao corpo; mas, por outro lado, também do corpo o que, por nenhuma razão, convenha à alma; igualmente do homem, em sua totalidade, se atribuem coisas que não podem ser atribuídas a nenhuma das partes em si mesmas consideradas. Finalmente, transferem-se ao corpo propriedades características da alma, e à alma propriedades características do corpo. Entretanto, aquele que consta destes elementos é um homem só, não muitos. E assim, formas de expressão deste quilate significam não só que há no homem uma só pessoa composta de dois elementos conjugados, mas ainda que nele subsistem duas naturezas diversas, que constituem esta pessoa. Assim também falam as Escrituras a respeito de Cristo: atribuem-lhe, às vezes, coisas que importa sejam atribuídas especificamente à sua humanidade; às vezes, coisas que competem exclusivamente à sua divindade; de quando em quando, coisas que abrangem a uma e outra natureza, mas que não são bastante próprias de nenhuma das duas separadamente. E, na verdade, com tão grande fervor exprimem esta conjunção de uma dupla natureza que subsiste em Cristo, que algumas vezes as fazem comunicar-se entre si, tropo este que pelos antigos foi chamado ivdiwma,twn koinwni,a  – comunhão de propriedades peculiares].

João Calvino