Por isso se acrescenta em seguida, no Credo, que
Cristo assentou-se à destra do Pai, evidentemente numa comparação extraída dos
príncipes que têm seus assessores a quem delegam as vezes de reger e governar.
Daí dizer-se que Cristo, em quem o Pai quer ser exaltado e pela mão de quem
quer reinar, foi recebido à sua destra, como se fosse dito que, investido no
governo do céu e da terra, entrou ele solenemente na posse da administração a
si confiada. Não só que entrou nessa posse uma vez; pelo contrário, que nela
permanece constante, até que desça para o Juízo Final. Ora, assim interpreta o
Apóstolo quando fala nestes termos: “O Pai o fez sentarse à sua destra, acima
de todo principado, e potestade, e poder, e dominação, e sobre todo nome que se
nomeia, não apenas neste mundo, mas também no futuro” [Ef 1.20, 21], e:
“Sujeitou todas as coisas sob seus pés” [1Co 15.27], e: “À Igreja o deu como
cabeça sobre todas as coisas” etc. [Ef 1.22]. Vês ao que visa esta “sessão”,
isto é, que honrem à sua majestade tanto as criaturas celestes quanto as
criaturas terrenas, sejam-lhe regidas pela mão, atentem para seu arbítrio,
sujeitem-se ao seu poder. Os apóstolos não querem outra coisa, quando tantas
vezes fazem dela menção, senão ensinar que todas as coisas lhe foram entregues
ao arbítrio. Por isso, não a interpretam corretamente aqueles que pensam que
com isso se designa simplesmente a condição de bem-aventurança a que ele foi
exaltado. O fato de que, em Atos [7.55], Estêvão testifica vê-lo posto em pé,
porém nenhuma diferença faz, porquanto aqui se trata não do posicionamento do
corpo, mas da majestade de senhorio, de sorte que estar assentado outra coisa
não é senão presidir sobre o tribunal celeste.
João Calvino