Total de visualizações de página

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

À PARTE DE CRISTO O PECADOR ESTÁ SOB A IRA DE DEUS; EM CRISTO ELE DESFRUTA DE SEU AMOR


Ainda que isto assim se diz em acomodação à limitação de nossa capacidade, entretanto não se diz falsamente. Pois Deus, que é a suprema justiça, não pode amar a iniqüidade que vê em todos nós. Todos, portanto, temos em nós o que é merecedor do ódio divino. Conseqüentemente, com respeito a nossa natureza corrompida e, em seguida, à vida depravada daí decorrente, estamos todos, realmente, no desagrado de Deus, somos réus a seus olhos e nascidos para a condenação da Gehena. Visto, porém, que o Senhor não quer perder em nós o que é seu, ainda acha algo a que, em função de sua benignidade, possa amar. Ora, por mais que, por defeito nosso, sejamos pecadores, permanecemos, no entanto, criaturas suas; por mais que para nós hajamos granjeado a morte, ele, no entanto, nos criara para a vida. Assim, é ele incitado, por puro e gracioso amor, a nos admitir à sua graça. Mas, se há perpétuo e irreconciliável conflito entre a justiça e a iniqüidade, o Senhor não pode, absolutamente, nos acolher por todo tempo em que permanecermos pecadores. Por essa razão, para que, removida a causa de toda inimizade, Deus a si nos reconcilie completamente, apresenta a expiação na morte de Cristo, e assim cancela tudo quanto de mau há em nós, para que nós, que antes disso éramos imundos e impuros, nos mostremos justos e santos a seus olhos. Portanto, com seu amor Deus o Pai se apresenta e antecipa nossa reconciliação em Cristo. De fato, visto que ele nos amou primeiro [1Jo 4.19], então a si nos reconcilia. Mas, visto que, até que Cristo nos socorra com sua morte, em nós permanece a iniqüidade que merece a indignação de Deus e é maldita e condenada diante dele, plena e sólida união com Deus só a temos depois que Cristo a ele nos une. E daí, se queremos assegurar Deus pacificado e propício para conosco, importa fixar os olhos e a mente em Cristo só, porquanto, de fato, só através dele conseguimos que ele não nos impute os pecados, cuja imputação traz consigo a ira de Deus.

João Calvino