Quando, porém, vemos que toda a suma de nossa
salvação, e também cada uma de suas partes, se acham compreendidas em Cristo,
impõe-se-nos guardar de derivarmos de outremsequer a mínima porção. Se
porventura se busca a salvação, somos ensinados no próprio termo Jesus que ela
está nele; se são buscados outros dons do Espírito, quaisquer que sejam, serão
achados em sua unção; se força, está exibida em sua soberania; se pureza, em
sua concepção; se complacência, em seu nascimento, pelo qual nos fez em tudo
semelhante ele, para que aprendesse a compartilhar de nossas dores; se redenção,
em sua paixão; se absolvição, em sua condenação; se remissão da maldição, em
sua cruz; se satisfação, em seu sacrifício; se purificação, em seu sangue; se
reconciliação, em sua descida ao Hades;se mortificação da carne, em seu
sepultamento;se novidade de vida, em sua ressurreição; se imortalidade, na
mesma; se herança do reino celeste, em seu ingresso no céu; se proteção, se
segurança, se abundância e provisão e todas as bênçãos, em seu reino; se
confiante expectação do Juízo, no poder de julgar que lhe foi conferido. Enfim,
como nele estejam quais tesouros toda espécie de bens, daí não de outra parte
são hauridos sobejamente. Ora, aqueles que, não contentes com ele só, são
levados para aqui e para ali a esperanças várias, ainda quando a ele
primordialmente contemplam, não mantêm, entretanto, a reta via que termine
nele, porque desviam para outra parte certa porção de seu pensamento. Contudo,
esta falta de confiança não pode insinuar-se onde, uma vez por todas, tenha
sido realmente conhecida a abundância de suas bênçãos.
João Calvino