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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CRISTO É SUPREMO JUIZ, MAS, ACIMA DE TUDO, ELE É NOSSO BENIGNO REDENTOR. AUTORIDADE E RELEVÂNCIA DO CREDO APOSTÓLICO


Daqui nasce profunda consolação, a saber: ouvimos que o julgamento está nas mãos daquele que já nos constituiu como companheiros na dignidade de julgar [Mt 19.28], tão longe está de subir ao tribunal para nossa condenação! Como, pois, seu povo haveria de perder um Príncipe clementíssimo? Como o Cabeça haveria de espalhar a seus próprios membros? Como o Causídico haveria de condenar a seus clientes?Ora, se o Apóstolo ousa exclamar que, ao interceder Cristo, ninguém pode adiantar-se dizendo que ele nos condena [Rm 8.33, 34], muito mais verdadeiro é que Cristo, sendo o próprio Intercessor, não haverá de condenar aqueles a quem recebeu sob sua fiança e amparo. Segurança não apoucada, por certo, é que não haveremos de assentar-nos perante outro tribunal, senão ao de nosso Redentor, de quem já podemos esperar a salvação. Ademais, que Aquele que, através do evangelho, agora nos promete a eterna bem-aventurança, então haverá de cumprir a promessa ratificada mesmo no julgar. Portanto, para este fim o Pai honrou ao Filho, deferindo-lhe todo juízo [Jo 5.22]: que assim haja de granjear a paz das consciências dos seus, atarantadas pelo terror do Julgamento. Até aqui tenho seguido a ordem do Credo Apostólico, porque, enquanto sumariza em poucas palavras os pontos capitais de nossa redenção, pode servir-nos de tabela em que percebemos distintamente e uma a uma as coisas que são dignas de atenção em Cristo. Chamo-o, porém, Apostólico, ao mesmo tempo sem a mínima preocupação quanto à autoridade. Certamente com grande consenso dos escritores antigos, prescreve-se ele aos Apóstolos, ou porque o julgavam escrito e publicado por eles em comum, ou porque foram de parecer que este sumário, fielmente coligido do ensino transmitido pelas mãos deles, se deveria sancionar com tal título. Aliás, a mim não vejo dúvida alguma que já desde os próprios primórdios da Igreja, com efeito desde o próprio século dos apóstolos, tenha sido consagrado como uma confissão pública e recebido pelos sufrágios de todos, de onde quer que, afinal, tenha ele provindo de início. Nem é provável tenha sido escrito por qualquer um em particular, uma vez ser evidente que desde a mais remota lembrança foi ele de sa crossanta autoridade entre todos os piedosos. O que se deve unicamente levar em conta, temo-lo situado além de controvérsia, a saber: que nele se enumera sucintamente e em ordem precisa toda a história de nossa fé, contudo nele nada se contém que não seja calcado em sólidos testemunhos da Escritura. Conhecido isto, de nenhuma importância se reveste ansiosamente alongar, ou com alguém digladiar acerca da autoria, a não ser a quem talvez não baste ter a segura verdade do Espírito Santo, sem que, ao mesmo tempo, saiba ou pela boca de quem tenha sido enunciado, ou pela mão de quem tenha sido compilado.

João Calvino