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quarta-feira, 18 de julho de 2018

A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA EVIDENCIA A OPERAÇÃO DIVINA EM TODOS OS FATOS DA VIDA HUMANA


Objetará alguém que estes são exemplos particulares, a cuja norma de maneira alguma se devem aplicar todos os fatos. Eu, porém, digo que por estes se prova suficientemente aquilo por que contendo: sempre que Deus, querendo fazer caminho à sua providência, dobra e revolve a vontade dos homens até mesmo nas coisas externas, nem lhes é livre a escolha, de modo que o arbítrio de Deus não lhe reja a liberdade. Queiras ou não, que teu intento é pendente antes da impulsão de Deus do que da liberdade de tua escolha, esta é a experiência diária. Freqüentemente, a razão e o entendimento se revelam falhos, o ânimo se queda flácido em coisas não árduas de se fazer; por outro lado, expedito conselho de pronto se oferece nas coisas mais obscuras; superior a toda dificuldade, o ânimo enfrenta as vultosas e arriscadas. E assim entendo o que Salomão diz [Pv 20.12]: “O ouvido para que ouça, o olho para que veja, um e outro os faz o Senhor.” Ora, não me parece estar ele a falar de sua criação, mas da graça peculiar de sua função. Quando, porém, escreve [Pv 21.1]: “O Senhor sustém em sua mão o coração do rei como os cursos de água, e o volve para onde o queira”, sob uma só espécie de fato compreende o gênero todo. Pois, se de toda sujeição foi liberada a vontade de alguém, esse direito compete, no mais alto grau, à vontade régia, que, de certa forma, exerce soberania sobre as demais. Ora, se até essa é refletida pela mão de Deus, nem desta condição se nos eximirá a nossa. Acerca desta matéria, destaca-se este notável parecer de Agostinho: “Se é diligentemente examinada, a Escritura mostra que não só as boas vontades dos homens, que de más ele assim as faz, e uma vez feitas, dirige para as boas ações e a vida eterna, mas também aquelas que conservam a criatura no mundo, assim estão sob o poder de Deus, de modo que, por seu mui secreto, porém mui justo juízo, as faz inclinar-se para onde quiser, quando quiser, seja para prestarem benefícios, seja para infligirem castigos.”

João Calvino