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segunda-feira, 30 de julho de 2018

O SEGUNDO MANDAMENTO PROCLAMA A INEXORÁVEL REAÇÃO DE DEUS CONTRA OS TRANSGRESSORES DESTE PRECEITO


O dispositivo que se acrescenta deve valer não pouco para sacudir-nos a inércia. Ameaça dizendo que ele é o Senhor, o nosso Deus, um Deus cioso de suas prerrogativas, que visita a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração naqueles que lhe aborrecem o nome, mas faz misericórdia para com milhares daqueles que o amam e lhe guardam os preceitos [Ex 20.5, 6]. Isto, na verdade, é exatamente como se estivesse a dizer que só ele é Aquele em quem devemos apegarnos. Para que nos leve a isto, proclama seu poder que não permite que seja impunemente desprezado ou menoscabado. Ocorre aqui, com efeito, no texto hebraico, o nome EL, que se traduz por DEUS. Porque, visto que se deriva da palavra que significa força, para que melhor expressasse o sentido, não hesitei em traduzir também isto ou inseri-lo no texto. Então, enuncia-se como cioso de suas prerrogativas, que não pode admitir parceiro. Finalmente, assevera haver de ser vindicador de sua majestade e glória, se alguém a transferir para criaturas ou para imagens de escultura. Nem o será mediante punição breve ou simples; ao contrário, será tal que se estende aos filhos, netos e bisnetos, os quais, obviamente, serão imitadores da impiedade paterna. De igual modo, exibe também sua perpétua misericórdia e benignidade, em longa posteridade, àqueles que o amam e guardam sua lei. É muito comuma Deus assumir em relação a nós a figura de um marido. Com efeito, a união com que nos vincula a si, quando nos recebe no seio da Igreja, tem o teor de um como que sagrado matrimônio, que importa firmar-se na mútua fidelidade [Ef 5.29-32]. Como ele desempenha integralmente todos os deveres de um esposo fiel e verdadeiro, assim, por sua vez, de nós exige amor e castidade conjugais. Isto é, que não prostituamos nossas almas a Satanás, à concupiscência e aos impuros apetites da carne para serem deles desonradas. Daí, quando censura a apostasia dos judeus, queixa-se de que, perdido o recato, eles se conspurcaram de adultérios [Jr 3.1, 2; Os 2.1-5]. Portanto, como um marido, quanto mais santo é e casto, tanto mais gravemente se incende se vê o coração da esposa a inclinar-se para com um rival, assim o Senhor, que verdadeiramente nos desposou para si, evidencia ser muito ardente sua inconformidade,sempre que é desdenhada a pureza de seu santo matrimônio, somos conspurcados de celerados apetites. Mas, então isto sente especialmente o Senhor, quando oferecemos a outro o culto de sua divina majestade, que conviera ser absolutamente ilibado, ou o corrompemos com alguma superstição, uma vez que, deste modo, não só violamos o compromisso feito no casamento, mas ainda, acenando aos amantes, maculamos o próprio leito conjugal.


João Calvino