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quinta-feira, 19 de julho de 2018

NEM ECLESIÁSTICO 15.14-17


Reportam também ao Eclesiástico, não obstante, como se sabe, seu autor é de autoridade duvidosa. Contudo, para que não seja por nós repudiado, o que, entretanto, nos é de direito, que ele testemunha em favor do livre-arbítrio? Diz que o homem, imediatamente após ser criado, foi deixado ao sabor de seu alvitre; foram- lhe dados preceitos que, se os guardasse, em contrapartida seria por eles guardado; a vida e a morte, o bem e o mal foram postos diante do homem; qualquer que viesse a querer, lhe seria dado, a saber: o homem recebeu, em sua criação, a capacidade de granjear a vida ou a morte. E se, em contrapartida, respondermos que ele a perdeu? Certamente que não é minha intenção contradizer a Salomão, que declara que o homem foi, inicialmente, criado reto, mas que ele próprio engendrou para si muitas invencionices [Ec 7.29]. No entanto, uma vez que, em conseqüência de sua degeneração, o homem fez naufrágio não só de si próprio, mas também de todas as coisas boas que em si havia, qualquer coisa que lhe é atribuída, provinda da criação original, não mais compete à natureza viciada e degenerada. Portanto, respondo não apenas a esses, mas ainda ao próprio Eclesiástico, quem quer que tenha sido, afinal: Se queres instruir ao homem a que busque em si mesmo a capacidade de adquirir a salvação, tua autoridade não nos é de tão grande alcance, sequer um mínimo grau, que possa prejudicar a Palavra de Deus que é perfeita. Se, porém, estás a esforçar-te para simplesmente coibir a malignidade da carne, que costuma forjarvã defesa para transferir a Deus suas coisas más, e por isso respondes que a retidão foi conferida ao homem, para que se ponha à mostra que ele pessoalmente é a causa de sua ruína, de bom grado concordo, contanto que, por outro lado, isto fique firmado entre mim e ti, que agora, por sua culpa, o homem foi despojado desses ornamentos com que, de início, o Senhor o havia dotado; e assim, igualmente confessemos que ele agora está precisando de médico, não de advogado.

João Calvino