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quarta-feira, 18 de julho de 2018

É IMPROCEDENTE A DISTINÇÃO ENTRE O BOM E O MAU

TERCEIRA OBJEÇÃO:


Apresentam o que pode parecer ter sido tomado de Crisóstomo: se, porém, esta não é uma faculdade de nossa vontade, escolher o bem ou o mal, ou ser participantes da mesma natureza, têm de ser todos maus, ou todos bons. Nem se distancia muito disto, quem quer que seja o autor da obra A Vocação dos Gentios, a qual circula sob o nome de Ambrósio, quando arrazoa que ninguém jamais se teria afastado da fé, a não ser que a graça de Deus nos tivesse deixado a condição de mutabilidade, no que é de admirar se a si mesmos tivessem enganado tão eminentes varões. Pois, como é possível que a Crisóstomo não viesse à mente que é a eleição de Deus que assim diferencia entre os homens? Nós, sem dúvida, de modo algum nos arreceamos de conceder o que Paulo assevera com grande renitência, a saber, todos são igualmente depravados e entregues à iniqüidade; com ele, porém, acrescentamos que é pela misericórdia de Deus que acontece de não permanecerem todos na depravação. Portanto, ainda que, por na tureza, todos laboremos em igual enfermidade, só recobram saúde aqueles a quem aprouve ao Senhor aplicar a mão curadora. Os outros, a quem, em seu justo juízo, pretere, definham em sua podridão até de todo consumir-se. Nem é de outra parte que uns perseveram até o fim, outros tombam, apenas iniciada a corrida. Com efeito, também a própria perseverança é dom de Deus, dom que não prodigaliza a todos indiscriminadamente; ao contrário, confere a quem bem lhe parece. Se se procura a causa da diferença, por que uns perseveram constantes, outros por instabilidade desfalecem, não nos é mostrada nenhuma outra causa senão que àqueles, firmados por seu poder, o Senhor os sustenta para que não pereçam; a estes não lhes ministra o mesmo poder, para que sejam exemplos de inconstância.

João Calvino