Com efeito, de uma passagem apenas se
haverá de evidenciar suficientemente que o ministério de Satanás intervém para
instigar os réprobos; quantas vezes, por sua providência, os determina o Senhor
para cá ou para lá. Ora, diz-se em Samuel, com bastante freqüência, que Saul ou
foi “arrebatado”, ou foi “entregue” a “um mau espírito do Senhor” e a “um mau
espírito da parte do Senhor”[1Sm 16.14; 18.10; 19.9]. Atribuir isto ao Espírito
Santo é uma impiedade. Logo, chama-se “espírito de Deus” a um espírito impuro,
porque este lhe atende ao mando e poder, mais um instrumento seu em ação do que
um agente de si próprio. Ao mesmo tempo, importa acrescentar-se o que é
ensinado por Paulo: que pela ação divina é enviada a operação do erro e da
sedução, “para que creiam na mentira aqueles que não obedeceram à verdade” [2Ts
2.10, 11]. Entretanto, com grande diferença, sempre se distingue em um mesmo
ato aquilo que o Senhor faz daquilo que Satanás e os ímpios porfiam por fazer.
Aquele faz com que sirvam à sua justiça estes instrumentos maus que tem sob a
mão e pode volver para onde quer. Estes, na medida em que são maus, em seu agir
dão à luz a iniqüidade concebida pela depravação da mente. As demais
considerações que concernem à defesa da majestade de Deus contra as calúnias, e
para refutar a tergiversação dos ímpios, já foram expostas no capítulo referente
à Providência.Pois aqui o propósito foi apenas indicar sucintamente como
Satanás reina no homem réprobo e como o Senhor age em ambos.
João
Calvino