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sábado, 21 de julho de 2018

AS PROMESSAS DA LEI, CONTUDO, NEM SÃO FÚTEIS, NEM IRRELEVANTES


Portanto, se atentamos somente para a lei, não podemos fazer outra coisa que perdermos o ânimo, ficarmos confusos e cairmos no desespero, uma vez que à base da lei somos todos condenados e amaldiçoados [G1 3.10], mantidos ao longe da bem-aventurança que propõe a seus cultores. Dirás, portanto, que assim está o Senhor a zombar de nós? Ora, quão pouco dista de zombaria o exibir a esperança de felicidade, para ela convidar e exortar, atestá-la a nós exposta, quando, a todo tempo, fechado e inacessível lhe seja o ingresso? Respondo: Se bem que, até onde são condicionais, as promessas da lei dependem da perfeita obediência da lei, obediência que em parte alguma se achará, contudo não foram dadas em vão. Pois, quando tivermos aprendido que elas nos haverão de ser fúteis e ineficazes, salvo se, de sua graciosa bondade, sem levar em consideração as obras, Deus nos abrace e, de igual modo, pela fé sejamos abraçado por essa bondade a nós exibida pelo evangelho, por certo que as promessas não carecem de sua eficácia, mesmo com a condição anexa. Ora, afinal, de tal forma tudo nos confere graciosamente o Senhor que também isto acrescente ao vasto acervode sua benevolência: que, não rejeitando nossa imperfeita obediência, e suprindo o que lhe falta em completamento, nos faz perceber o fruto das promessas da lei, exatamente como se por nós fosse cumprida a condição. Visto que, porém, em tratando da justificação pela fé, ter-se-á de discutir mais plenamente esta questão, por agora não prosseguiremos além.

João Calvino