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quarta-feira, 18 de julho de 2018

AGOSTINHO SUSTENTA QUE A VONTADE HUMANA É TOTALMENTE ACIONADA PELA GRAÇA


Ouçamos agora Agostinho falando com suas próprias palavras, para que os pelagianos de nosso tempo, isto é, os sofistas da Sorbone, não nos acusem, segundo seu costume, que toda a antigüidade nos é contrária; no que de fato imitam a seu pai Pelágio, por quem outrora o próprio Agostinho foi arrastado à mesma arena. Em seu livro, Da Censura e da Graça, dirigido a Valentino, Agostinho trata mais amplamente do que, ainda em suas palavras, referirei de maneira sucinta: “A graça de persistir no bem fora dada a Adão, se ele a quisesse exercitar; a nós nos é dada para que queiramos, e através da vontade superemos a concupiscência. Portanto, teria ele tido o poder, se o quisesse, porém não teve o querer, para que pudesse; a nós nos é dado não só o querer, mas ainda o poder. A pE para que não se conclua que ele está falando da perfeição a advir após a imortalidade, como erroneamente o interpreta Lombardo, pouco depois remove esta dúvida. “A vontade dos fiéis é de tal maneira guiada pelo Espírito Santo, que podem agir bem porque assim o querem; e querem, porque Deus faz com que queiram [2Co 12.9].93 Porque, se com tão grande debilidade que requer a intervenção do poder de Deus para reprimir nosso orgulho, se quisessem, e Deus não fizesse com que quisessem, no meio de tantas tentações sua fraca vontade fracassaria, e com isso não poderiam perseverar. Portanto, ele veio em socorro da fraqueza da vontade humana, para que fosse, indeclinável e inseparavelmente, acionada pela graça divina, e por isso, por mais fraca que seja, não viesse a desfalecer.” Em seguida ele discute, mais extensivamente, como nossos corações seguem necessariamente a injunção de Deus a movê-los, e diz que de fato Deus impulsiona os homens de sua própria vontade, vontade, porém, que ele mesmo neles plasmou. Temos agora, pela boca de Agostinho, o testemunho que desejamos especialmente obter, isto é, que a graça é não apenas oferecida pelo Senhor, a qual, da livre escolha de cada um é aceita ou é rejeitada, mas ainda que é ela mesma que forma no coração não só a escolha, como também a vontade, de sorte que o que quer que daí se segue é fruto de boa obra e efeito da própria graça, não tem ela outra vontade a obedecer-lhe senão aquela que ela própria formou. Pois, em outro lugar, são dele também estas palavras: “Só a graça opera em nós toda boa obra.”rimeira liberdade foi de poder não pecar; a nossa é muito maior: não poder pecar.”


João Calvino