“EU SOU O SENHOR TEU DEUS, QUE TE
TIREI DA TERRA DO EGITO, DA CASA DA SERVIDÃO. NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE
MIM” [EX 20.2, 3]
É-me indiferente se poventura fizeres
da primeira sentença parte do primeiro mandamento, ou se a leres em separado,
contanto que não me negues servir ela de um como que prefácio à lei em seu
todo. Em formulando leis, deve-se tomar cuidado, em primeiro plano, que não
sejam anuladas dentro em pouco, em virtude de seu menosprezo. Deus provê, portanto,
antes de tudo, que a majestade da lei que está para outorgar não venha, a
qualquer tempo, a cair em desprezo. Para assim estabelecê-la, usa de tríplice
argumento. A si reivindica o poder e o direito de soberania a fim de que
constrinja o povo eleito pela necessidade de obedecer-lhe. Exara a promessa de
graça, mercê de cuja doçura alicie o mesmo ao zelo de santidade. Traz à
lembrança o benefício conferido, para que acuse aos judeus de ingratidão, caso
não lhe respondam à benignidade. No termo SENHOR expressam-lhe a soberania e o
legítimo domínio, porquanto, se dele procedemtodas as coisas e nele subsistem,
é justo que a ele sejam referidas, assim como o diz Paulo [Rm 11.36]. Desta
forma, só por este nome somos suficientemente submetidos ao jugo da divina
Majestade, porquanto haveria de ser monstruoso querer evadir-nos à autoridade
desse à parte de quem não podemos existir.
João
Calvino