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domingo, 12 de agosto de 2018

A QUINTA DIFERENÇA: O ANTIGO TESTAMENTO É VOLTADO PARA UM POVO; O NOVO É POLARIZADO PARA TODOS OS POVOS


A quinta diferença que se pode adicionar jaz nisto: que até a vinda de Cristo o Senhor separara, como um todo, um povo em que contivesse o pacto de sua graça. “Quando o Altíssimo distribuía os povos, quando dividia os filhos de Adão”, diz Moisés, “coube-lhe por posse o seu povo; Jacó veio a ser o cordel da herança” [Dt 32.8, 9]. Em outro lugar, assim fala ao povo: “Eis que do Senhor teu Deus é o céu e a terra e tudo que nela há. Contudo, somente a teus pais se apegou; amou-os a tal ponto que escolheu sua semente após eles, isto é, a vós próprios, dentre todos os povos” [Dt 10.14, 15]. Portanto, só a esse povo, como se ele só dentre os homens lhe pertencesse, dignou do conhecimento de seu nome; seu pacto como que lhe pôs no regaço; manifestou-lhe a presença de sua majestade; honrou-o com todos os privilégios. Mas, para omitirmos os demais benefícios, atenhamo-nos a esse um de que aqui se trata: mediante a comunicação de sua palavra, a si o uniu de tal sorte que fosse chamado e fosse tido por seu Deus. Enquanto isso, deixava que os demais povos andassem em fatuidade [At 14.16], como se consigo nada tivessem de relação e intercurso; nem, para que lhes curasse o mal, propiciava o que era o único remédio, a saber, a pregação da Palavra. Foi assim que Israel veio a ser, então, o filho querido do Senhor; os demais eram estranhos; aquele reconhecido, e recebido à confiança e à proteção, os demais deixados em suas trevas; aquele santificado por Deus, os demais profanos; aquele honrado na presença de Deus, os demais excluídos de toda aproximação. Quando, porém, veio a plenitude dos tempos [Gl 4.4] destinada à restauração de todas as coisas [Mt 17.11], e foi revelado esse reconciliador de Deus e dos homens, derruída a muralha que, por tão longo tempo, mantivera a misericórdia de Deus confinada nos limites de Israel, foi anunciada a paz aos que estavam longe, não menos aos que se achavam perto, para que, juntamente reconciliados com Deus, se amalgamassem em um só povo [Ef 2.14-17]. Por isso, agora nenhuma distinção há de grego ou judeu [G1 3.28], de circuncisão ou incircuncisão, mas “Cristo é tudo em todos” [Cl 3.11], “a quem os povos foram dados por herança e os termos da terra por pecúlio” [Sl 2.8], para que “sem distinção domine ele de mar a mar e desde os rios até os extremos confins do orbe” [Sl 72.8].

João Calvino