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domingo, 12 de agosto de 2018

DIFERENÇA ENTRE ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS EM RELAÇÃO À VOCAÇÃO DOS GENTIOS


Portanto, a vocação dos gentios é insigne marca através da qual se ilustra a excelência do Novo sobre o Antigo Testamento. Sem dúvida que de muitos e mui claros vaticínios dos profetas fora ela atestada anteriormente, seu cumprimento, porém, foi delongado até o reino do Messias. E, na verdade, o próprio Cristo não fez avanços para ela imediatamente após o primeiro início de sua pregação. Pelo contrário, a prorrogou até que, cumpridos todos os passos de nossa redenção e acabado o tempo de sua humilhação, recebesse do Pai “o nome que está acima de todo nome, diante do qual se dobrasse todo joelho” [Fp 2.9, 10]. Donde, ainda não chegada esta oportunidade, nega ele à mulher cananéia ter sido enviado a não ser às ovelhas perdidas da casa de Israel [Mt 15.24]; nem aos apóstolos, em sua primeira missão, permite transpor esses mesmos limites. “Pelo caminho dos gentios”, diz ele, “não ireis e nas cidades dos samaritanos não entrareis. Ao contrário, ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel” [Mt 10.5, 6]. Mas, por mais que de tantos testemunhos fosse proclamada a chamada dos genti os, quando, entretanto, teve que ser empreendida pelos apóstolos, tão nova e insólita lhes pareceu que se lhe quedaram apavorados, como se fora alguma prodigiosa monstruosidade. Empreenderam-na, por fim, trepidantemente, é verdade, e nem sem hesitação. Nem é de admirar, pois parecia quase nada consentâneo à razão que o Senhor, que por tantos séculos preferira Israel aos demais povos, como que de repente, mudado o desígnio, abrisse mão dessa preferência. Isto de fato fora predito por meio de vaticínios. Contudo, não podiam eles estar a tal ponto atentos a tais vaticínios, que nada se deixassem afetar pela novidade do fato que se lhes deparava. Nem eram suficientemente fortes para demovê-los os exemplos da futura vocação dos gentios que Deus dera a conhecer já no passado. Ora, além de chamar a pouquíssimosgentios, a esses mesmos de certo modo os enxertava na família de Abraão, de sorte que fossem acrescentados a seu povo. Mas, através dessa chamada pública não só eram os gentios igualados aos judeus, mas ainda se fazia manifesto que estavam eles a tomar como que o lugar de mortos. Acrescenta que os estrangeiros jamais foram postos em igualdade com os judeus, quem quer que fossem, aos quais Deus admitira previamente ao corpo da Igreja. Dessa forma, não sem causa, Paulo proclama, com tanta veemência, este “um mistério escondido dos séculos e das gerações” [Cl 1.26], e diz ser o mesmo maravilhoso inclusive aos anjos [Ef 3.9, 10].

João Calvino