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segunda-feira, 9 de julho de 2018

ACEPÇÕES DE VONTADE E DE LIBERDADE NOS PATRÍSTICOS


Geralmente esses vultos eclesiásticos costumam atribuir ao livre desígnio do homem as coisas intermédias, que evidentemente nada têm a ver com o reino de Deus, mas atribuir a verdadeira justiça à graça especial de Deus e à regeneração espiritual. No afã de tornar isto evidente, o autor da obra A Vocação dos Gentios enumera uma tríplice vontade: a primeira, sensória; a segunda, animal; a terceira,
espiritual, das quais as duas primeiras ensinam que o homem as tem livres, sendo a última obra do Espírito Santo no homem. Se porventura isto é procedente, será analisado em seu devido lugar, pois agora o propósito é apenas mencionar sucintamente as opiniões dos outros, não refutá-las.
Daqui resulta que esses escritores, quando tratam do livre-arbítrio, cogitam acima de tudo não de que papel exerça ele em relação às ações civis ou externas; ao contrário, de que poder se reveste no que se reporta à obediência da lei divina. Reconheço ser esta última questão a principal, contudo em moldes tais que julgo não dever negligenciar-se completamente a primeira. Espero poder apresentar uma razão bem satisfatória deste meu ponto de vista.
Veio, porém, a prevalecer entre as escolas a distinção que enumera uma tríplice liberdade: a primeira, da necessidade; a segunda, do pecado; a terceira, da miséria, das quais a primeira é por natureza de tal forma inerente ao homem que de nenhum modo pode ser alijada; as outras duas foram perdidas mediante o pecado. De bom grado acolho esta distinção, exceto que aqui se confunde, indevidamente, necessidade com coação. Quanto de diferença haja entre elas e quão necessário se deva considerar isto, evidenciar-se-á em outro lugar.


João Calvino