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domingo, 12 de agosto de 2018

A BEM-AVENTURANÇA FUTURA NÃO ERA APENAS TIPIFICADA NAS BÊNÇÃOS MATERIAIS, MAS TAMBÉM A PERDIÇÃO ETERNA SE ESPELHAVA NOS CASTIGOS TERRENOS


Esta é a razão por que se lê que os santossob o Antigo Testamento estimaram como sendo de maior vulto o que agora parece próprio à vida mortal e suas bênçãos. Pois, ainda que soubessem muito bem que não deveriam deter-se nesta vida como se fosse a meta de sua carreira, entretanto, porque reconheciam os delineamentos de sua graça, que o Senhor aí imprimira para exercitá-los segundo a medida de sua fraqueza, eram tocados por seu dulçor ainda maior do que se tivessem contemplado meramente sua aparência. Contudo, da mesma forma que, em atestando, através dos bens presentes, sua benevolência para com os fiéis, prefigurava, então, o Senhor a felicidade espiritual mediante tipos e símbolos desta natureza, de igual modo, por outro lado, nos castigos corporais dava mostras de seu juízo aplicado aos réprobos. Desse modo, como os benefícios de Deus eram mais evidentes nas coisas terrenas, assim também seus castigos. Enquanto os imperitos não ponderam esta relação e, por assim dizer, conformidade entre castigos e galardões, admiram-se de tão grande variação em Deus, como Aquele que, açodado outrora a punir com cruéis e horrendos suplícios a todos e quaisquer delitos do homem, agora, como que sustado o impulso da ferocidade antiga, não só pune muito mais brandamente, mas ainda muito mais raramente. E pouco falta a que, em razão disso, imaginem deuses diversos do Antigo e do Novo Testamentos, o que, aliás, sucede aos maniqueus.
Aliás, nos devencilharemos facilmente de tais entraves se voltarmos a mente para esta dispensação de Deus de que falei, a saber, que durante esse tempo em que ao povo de Israel ministrava seu Testamento, até então como que de forma velada, quis ele significar e prefigurar ora, mediante benefícios terrenos, a graça da felicidade futura e eterna, ora, mediante castigos corporais, a gravidade da morte espiritual.

João Calvino