Total de visualizações de página

domingo, 12 de agosto de 2018

A CONCLUSÃO INCONTESTÁVEL: O ANTIGO TESTAMENTO E O PACTO NELE CONTIDO POLARIZADOS NA PROMESSA DA VIDA FUTURA


Agora, já que há menos controvérsia e mais clareza, não me delongarei em provar dois pontos restantes, a saber: que os pais tiveram a Cristo como o penhor de seu pacto e que puseram nele toda a confiança da bênção. Portanto, estabeleçamos firmemente o que não pode ser subvertido por qualquer maquinação do Diabo: que o Antigo Testamento, ou Pacto, que Deus firmou com o povo de Israel, não se limitara às coisas terrenas; ao contrário, continha a promessa da vida espiritual e eterna, cuja expectação se impôs que fosse impressa na mente de todos quantos anuíam verdadeiramente ao pacto. Logo, alijemos para bem longe esta insana e perniciosa opinião de que ou o Senhor outra coisa não prometera aos judeus, ou eles nada buscaram, exceto saciedade do ventre, deleites da carne, riquezas florentes, poder exterior, fecundidade de filhos e tudo quanto tenha em apreço o homem animal. Pois Cristo, o Senhor, promete hoje aos seus não outro “reino dos céus” senão aquele onde se reclinem com Abraão, Isaque e Jacó [Mt 8.11], e Pedro declarava que os judeus de seu tempo eram herdeiros da graça do evangelho, por isso eram “os filhos dos profetas, incluídos no pacto que Deus havia outrora firmado com seu povo” [At 3.25]. E para que isso não se houvesse de atestar somente por palavras, comprovou-as o Senhor também com o fato. Pois, nesse exato momento em que ressuscitou, do consórcio de sua ressurreição dignou a muitos dos santos e concedeu que fossem vistos na cidade de Jerusalém [Mt 27.52, 53], outorgado, assim, seguro penhor de que tudo quanto fez e sofreu na aquisição da salvação eterna pertence aos fiéis do Antigo Testamento não menos que a nós. Com efeito, atesta-o Pedro, eles foram dotados também do mesmo Espírito de fé com que somos regenerados à vida [At 15.8]. Quando ouvimos haver neles habitado, igualmente, esse espírito que é como que, dir-se-á, uma centelha de imortalidade em nós, donde também se chama, em outro lugar [Ef 1.14], de “penhor de nossa herança”, como ousaremos detrair sua herança da vida? Portanto, mais de admirar é que os saduceus tenham outrora caído nisto, por sua obtusidade, a saber: negavam tanto a ressurreição, quanto a substancialidade das almas, ambas as quais foram assinaladas por tão claros testemunhos da Escritura. Nem menos monstruosa haveria hoje de ser a loucura de toda a nação judaica em esperar um reino terrestre de Cristo, embora as Escrituras tivessem predito muito antes que eles haveriam de sofrer este castigo por causa da rejeição do evangelho. Pois assim convinha ao justo juízo de Deus ferir de cegueira as mentes que, recusando a luz do céu oferecida, de si mesmas trouxeram trevas sobre si. Portanto, lêem Moisés e assiduamente o folheiam, contudo são impedidos por um véu anteposto, de sorte que não vejam sua luz a resplandecer na face [2Co 3.13-15]. E desse modo ela lhes permanecerá coberta e envolta, até que se voltem para Cristo, de quem agora diligenciam, quanto podem, por afastá-la e separá-la.

João Calvino